Longe vão os tempos do verdadeiro espírito olímpico amador preconizado por Pierre de Coubertin, da injustiça da retirada das medalhas ao impressionante decatleta Jim Thorpe em 1912, por no passado ter jogado baseball de forma semi-profissional, ou dos basquetebolistas da NBA estarem impedidos de participar nos Jogos Olímpicos. Hoje, os Jogos Olímpicos são uma competição que reúne os melhores atletas profissionais, que gera milhões em audiências e patrocínios, o pináculo do desporto para a maioria das modalidades. E os atletas, antes simples amantes do desporto, são hoje financiados em conformidade (pelo menos os que têm mais sorte) com os esforços diários de dedicação completa à sua arte.
Esta quarta-feira, a World Athletics deu mais um passo para enterrar definitivamente o espírito amador dos Jogos Olímpicos, tornando-se na primeira federação internacional a instituir prémios monetários para os vencedores de medalhas de ouro olímpicas, já para Paris 2024. Cada medalha de ouro nos 48 eventos do atletismo valerá 50 mil dólares - 46 mil euros -, com o prémio da vitória numa estafeta a ser dividido pelos atletas participantes. O dinheiro a ser distribuído pelos atletas será retirado do bolo que o Comité Olímpico Internacional paga a cada federação internacional após feitas as contas às receitas de cada edição dos Jogos Olímpicos.
“A introdução de um prémio monetário para a medalha de ouro olímpica é um momento-chave para a World Athletics e para o atletismo como um todo, sublinhando o nosso compromisso em dar poder aos atletas e reconhecer o papel fundamental que eles têm no sucesso dos Jogos Olímpicos”, explicou Sebastian Coe, presidente da federação internacional de atletismo, em comunicado.
O antigo atleta britânico frisa que “é impossível colocar um valor de mercado na conquista de uma medalha de ouro ou no compromisso e foco necessário para representar o país nuns Jogos Olímpicos”, mas que ainda assim é “importante” que a federação internacional “comece por algum lado e garanta que alguma da receita gerada pelos atletas nos Jogos Olímpicos seja devolvida diretamente aos que fazem dos Jogos o espectáculo global que é”.
A World Athletics pretende que a iniciativa seja alargada nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 2028, também para as medalhas de prata e bronze. Os prémios monetários da federação juntam-se assim aos prémios estatais que vários países já têm contratualizados para reconhecer o sucesso dos seus atletas.