Kévin Rouet não olhou a restrições quando lhe pediram que fizesse o plano da preparação do Canadá para o Mundial de râguebi. Foi ambicioso ao enumerar todos os requisitos. O esboço elaborado pelo treinador incluía estágios, jogos de preparação, voos, alojamento e um reforço da equipa técnica. Os gastos estimados para uma comitiva de 40 pessoas eram de um milhão de dólares canadianos (qualquer coisa como €617.780) acima do orçamento. Mas se era mesmo necessário, encontrou-se uma solução.
Em março, cinco meses antes do arranque da competição, a federação canadiana lançou a campanha “Mission: Win Rugby World Cup 2025” que convidava os interessados a colaborarem no objetivo. O objetivo era conseguir, através de doações, o dinheiro necessário para uma abordagem ao torneio dentro dos parâmetros exigidos pelo técnico francês de 38 anos.
Na véspera da competição, o mealheiro continha 95% do valor solicitado. O orçamento inicial de €1,6 milhões recebeu um reforço substancial. Ainda assim, o Canadá continua a ter um dos “orçamentos mais pequenos de todo o Mundial”, lamentou o CEO da federação, Nathan Bombrys, ao “RugbyPass”. “No nosso país, a filantropia é essencial. As pessoas estão disponíveis para apoiar uma boa causa, querem ver a modalidade a crescer. As jogadoras são amadoras, apesar de terem uma abordagem profissional.”
As limitações não impediram o Canadá de fazer um brilharete. Na meia-final, a equipa número dois do ranking superou a Nova Zelândia (34-19), vencedora de seis dos últimos sete Mundiais. Desde 1991, que as Black Ferns não perdiam um jogo da fase a eliminar da competição.
Por terem conquistado o último Mundial, que disputaram na condição de anfitriãs, as jogadoras neozelandesas receberam €12.473 cada. Em 2024, a federação inglesa teve €201 milhões de receitas. O Canadá apenas €12,5 milhões.
Perante as disparidades, é preciso ser “mais criativo”, assim explicou Kévin Rouet, após a passagem à final. “Fizemos muitas coisas que não teríamos feito se tivéssemos muito dinheiro.” No fundo, é necessário ser “eficiente” com os recursos disponíveis.
O Canadá já tinha chegado à final, em 2014, num encontro que perdeu contra a Inglaterra. As duas seleções podem voltar a encontrar-se caso as Red Roses superem a França na outra meia-final. “Quando foi a última vez que o Canadá foi campeão do mundo de algo que não envolvesse gelo?”, questionou-se Nathan Bombrys.
O Mundial 2025 propunha-se a bater recordes. Na final, com 82.000 pessoas presentes em Twickenham, será estabelecido um novo recorde de assistência num jogo de râguebi feminino. O Canadá juntou-se à festa.