O parente menos popular das ondas que deita pessoas sobre uma prancha e lhes põe barbatanas nos pés visita os mesmos lugares no oceano, tem um circuito mundial e esse viaja por Marrocos, Chile, Brasil e as Ilhas Canárias, mas nenhum desses arrabaldes tem residência há tanto tempo fixa no calendário do Comité Internacional de Bodyboard (IBC) como a Praia Grande, em Sintra. É numa das beiças de areia que a serra escancara diante do Atlântico que há quase três décadas pára, de forma consecutiva, uma etapa do mundial da modalidade.
É tradição que entre o fim de agosto e o arranque de setembro os e as melhores do mundo peregrinem até Sintra, portugueses incluídos, embora sem grande hábito vencedor de quem partilha nacionalidade com a prova. Em 29 anos, apenas um homem, Manuel Centeno, foi capaz de vencer, em 2003, igualmente só uma mulher, Catarina Sousa, prevaleceu nestas ondas em 2009. Ambos lendas do bodyboard em Portugal, já quarentões, tiveram de esperar até 2025 para alguém os imitar na proeza.
Nascida e criada em Sintra, a caseira Filipa Broeiro já sabia o que é provar um desgosto quando, em 2021, perdera na final contra Isabela Sousa, campeã mundial. Teve tempo para retirar lições, aprender e crescer para, aos 23 anos, acabar com a espera este domingo, ao conquistar a prova feminina do Sintra Pro, não o fazendo por menos face às circunstâncias: venceu, na decisão, a adolescente Luana Dourado, a hoje maior esperança do bodyboard português e campeã nacional, de apenas 16 anos, que no caminho rumo à final derrotou, por exemplo, a brasileira Neymara Carvalho, pentacampeã mundial.
A vitória de Filipa acrescenta ao seu currículo nada magro, juntando-se ao título de campeã europeia de 2023 e ao nacional, que venceu um ano antes. “É surreal vencer aqui. Fui para a água com cabeça erguida, pensando sempre em não desistir e esperar pela onda certa. Ela chegou e consegui decidir bem e agora estou muito feliz. Sei o que valho, trabalhei muito para isto e sempre pensei em ganhar, mas, desta vez, depois de muito trabalho duro, consegui e sinto que foi merecido”, disse a vencedora, já com os pés na areia.
O quadro feminino do Sintra Pro estava recheado de representantes nacionais. Além da vencedora, competiram Joana Schenker, primeiro e única campeã mundial portuguesa (2017), Mariana Silva, Teresa Padrela, Luana Dourado e Alice Teotónio. Os 5000 pontos amealhados por Filipa Broeiro, terceira do ranking internacional, lançam-na em definitivo para a disputa do título quando sobra apenas uma etapa por disputar, em Espírito Santo, no Brasil.