1. Os encostos de cabeça de jogadores em relação a árbitros não são moda recente e acontecem mais vezes do que o mediatismo de meia dúzia de jogos possa sugerir.
Um dos motivos pelos quais se repetem é, se calhar, o facto de serem erradamente sancionados como comportamentos antidesportivos.
Quando este tipo de condutas são penalizadas disciplinarmente de forma mais leve, a mensagem que passa para o exterior é a oposta daquela que devia passar. Aliás, a mera exibição do cartão amarelo é quase um convite à reincidência, uma reafirmação de que o crime compensa.
Não pode ser.
É fácil para mim chegar a esta conclusão, porque em tempos cometi exatamente o mesmo erro, num célebre SC Braga - FC Porto: Bellushi, exaltado com uma decisão da equipa de arbitragem, colou a sua cabeça à minha. Foi apenas advertido.
Às vezes somos surpreendidos por situações que não antecipámos, por momentos que não passámos antes e por isso não damos, no imediato, a melhor resposta. Depois de os identificarmos e tipificarmos, torna-se mais fácil.
Para que percebam, o que está aqui em causa é defender a autoridade do árbitro e da própria arbitragem, não o contrário, que é enfraquecer a sua posição perante toda gente.
Há linhas que não podem ser ultrapassadas e esta é claramente uma delas: um jogador não pode tratar o árbitro da mesma forma que trata um adversário, porque o árbitro é a soberania em campo, é o juiz máximo do jogo. Nunca pode ser molestado dessa forma por quem discorda pontualmente das suas decisões.
2. Mas isso não significa que façamos do infrator uma besta ou que o tratemos como espécie de marginal sem escrúpulos, um arruaceiro sem fairplay.
Não é justo, esse carimbo. Ser jogador de futebol é uma atividade física, psicológica e emocionalmente muito desgastante. Os atletas dão o máximo pela sua equipa e pelos seus objetivos. Eles correm, saltam, chocam uns com os outros, fazem e sofrem faltas, gritam, cansam-se e lidam durante hora e meia com as múltiplas variáveis do jogo.
Há sempre muita coisa em disputa, até o seu lugar na equipa. Até o seu futuro profissional. Não é fácil, não é nada fácil, sobretudo em alta competição, onde o escrutínio é tremendo e tudo é analisado à lupa.
Mas os atletas não são todos iguais. Em contexto tão intenso e desafiante, há quem tenha mais inteligência emocional, maturidade competitiva e serenidade e há quem seja mais explosivo e intolerante, mais intempestivo e sensível. Quando um jogador comete um erro sancionável com cartão vermelho, é o jogador que falhou, não o homem. É ele que é penalizado, não a pessoa.
Por cá é habitual confundirmos esses conceitos e rotularmos uns e outros em função das cores que cada um defende.
Um conselho bem intencionado: não caiam na tentação da diabolização.
Por detrás de cada um desses profissionais, mais ou menos irados, mais ou menos intolerantes, há gente de bem, com valores, família e bom-nome a defender.
Balizemos as criticas aos erros que cometem em campo, não a quem são ou ao que fazem fora dele.
Não custa nada pensar nisto.