Deixei de ver futebol. Não, a razão não é a liderança do Sporting ou a má relação entre o FC Porto e os árbitros, duas provas irrefutáveis de que o fim do mundo está mesmo para breve. Não, a razão também não é o tédio competitivo (ganham sempre os mesmos na UEFA) ou a rapidez monocórdica do jogo: o futebol está paradoxalmente mais rápido e mais previsível; perdeu beleza e improviso. O problema é mesmo a tecnologia, que está a sugar a humanidade do jogo.
A tecnologia está a matar o prazer do golo. Para começar, temos o malfadado “delay” nos serviços de televisão. Vivo numa zona densamente povoada, ou seja, há sempre um vizinho que tem um serviço de tv mais rápido do que o meu, logo, ele vai comemorar o golo muito antes de mim, arruinando por completo a minha caminhada para a explosão de alegria. A bola, na minha tv, ainda está no reumatismo teutónico do Weigl, mas um ou mais vizinhos já estão aos urros, Esferovite, és o maior! Não, não consigo ver o Benfica assim. Nem o Benfica nem a seleção. Consegui comemorar o golo do Éde, porque tinha a casa cheia de gente até ao teto. Talvez esta seja a única maneira de ver bola em casa hoje em dia: transformar o sofá num barulhento terceiro anel.
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