Silêncio. Respirar fundo. Luzes, câmara, ação. Bang.
A rotina prévia aos segundos em que se decide quem são o homem e a mulher mais rápidos do mundo corresponde a uma encenação conhecida, a um espetáculo treinado e pensado para a televisão. Todos se calam. Telefones na mão. A câmara vira-se para a bancada.
É Usain Bolt, o rei, o melhor sprinter da história, ainda o mais veloz de sempre nos 100 metros. Ele estava do lado de fora, do lado da pista está quem cresceu com o raio como ídolo.
Oblique Seville e Kishane Thompson viram Noah Lyles, o espalhafatoso norte-americano, um atleta para a era do Tik-Tok, extravagante e viral, coroar-se em Paris. Foi campeão olímpico e celebrou com ruído, com aparato.
Silêncio. Respirar fundo. Luzes, câmara, ação.
Repetir. A falsa partida de Letsile Tebogo, o campeão olímpico dos 200 metros, forçou a anular a saída e desqualificar o homem do Botswana.
Quando a partida contou, Lyles pareceu preso aos blocos. Arrancou mal, dando logo vantagem à Jamaica no duelo contra os Estados Unidos. Com Usain Bolt em delírio, Oblique Seville parou o relógio a 9.77 segundos, a sua melhor marca de sempre e um registo historicamente muito forte.
Atrás de Seville chegou o outro jamaicano, Kishane Thompson, com 9.82 segundos. Só depois surgiram os derrotados norte-americanos: Lyles em terceiro, com 9.89, Kenneth Bednarek quarto.
No lado feminino, a dinâmica inverteu-se. Não com dobradinha para a bandeira das riscas e das estrelas, mas com ouro e recorde dos Mundiais.
Melissa Jefferson-Wooden triunfou nos 100 metros femininos com enorme avanço, parecendo ir num qualquer veículo motorizado. Fez 10.61 segundos, à frente de Tina Clayton, da Jamaica, com 10.76. Tal como no lado masculino, o bronze foi para quem reinou em Paris. Julien Alfred, a sprinter da pequena Santa Lúcia, fez 10.84 segundos.