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Tribuna Expresso
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Bola de Berlim

Punk, política e futebol: o St. Pauli entre a Bundesliga e a crise da esquerda

O St. Pauli é o clube mais punk e esquerdista do mundo: ajuda no acolhimento de refugiados, tem três mulheres como vice-presidentes e pertence na totalidade aos seus sócios. Recentemente promovido à primeira divisão, enfrenta críticas por se estar a tornar demasiado comercial. Os seus adeptos também estão divididos em relação à guerra em Gaza e ao rumo da esquerda alemã

Selim Sudheimer/Getty

Tiago Carrasco

Estádio: Volksparkstadion

Região: Hamburgo

Como era habitual, o punk Torsten Herrmann, conhecido como “Doc Mabuse”, saiu do estádio do St. Pauli bastante embriagado após mais uma partida da formação de Hamburgo. A caminho da casa ocupada onde dormia, parou diante de uma barraquinha com bandeiras ao lado da Catedral, onde se festejava a Volksfest (festa popular da cidade). Deteve-se a olhar para uma delas: fundo negro, caveira e ossos, um símbolo pirata a esvoaçar perto do emblemático porto. Tirou do bolso os 10 marcos (aproximadamente 5 euros) que não tinha gastado em cerveja e comprou-a. “Nunca gostei muito da tradicional bandeira castanha e branca com o símbolo do clube e achei que estava na altura de levar algo novo”, disse o punk à revista Stern, em abril passado.

Doc Mabuse levou a bandeira para o Millerntor-Stadion, a casa do St. Pauli, no jogo seguinte. Foi um sucesso. Na jornada que se seguiu, avistou umas dez bandeiras como a dele. Depois, umas 30. Quando a nova temporada entrou, o Millerntor estava repleto de caveiras. A bandeira original já não existe – Mabuse deixou-a queimar numa fogueira, numa noite de copos -, mas o símbolo tornou-se não somente na nova imagem do clube, como também num dos ícones da esquerda a nível global. Representa uma posição política anticapitalista, antifascista, anti-homofóbica e antirracista. Está hoje entre os cinco artigos de merchandising desportivo mais vendidos na Alemanha. Sem querer – e sem nunca ter recebido um cêntimo em troca -, o velho punk tornou-se criador de uma marca global.

O inusitado episódio ocorreu em 1986. Foi no início dessa década que o St. Pauli, clube do bairro portuário de Hamburgo com o mesmo nome, começou a mudar a sua identidade e a sua história. Fundado em 1910, o emblema tinha até então apenas uma presença na Bundesliga (1.ª divisão), em 1977, e no seu palmarés contava somente com alguns troféus regionais. A sua massa adepta rondava os 2 mil espetadores e era formada maioritariamente por reformados, alguns estivadores e sindicalistas.

Hoje, os seus adeptos dizem orgulhosamente que pertencem a um clube “NOT estabilished since 1910”, isto é, que não faz parte do estabilishment (do sistema).

Uma inversão que começou no início da década de 1980, resultado de uma conjugação de circunstâncias que atirou o clube para os antípodas do futebol controlado por magnatas e fundos internacionais. Primeiro, uma crise económica e a falência de várias empresas causaram greves e manifestações tumultuosas nos bairros adjacentes ao porto, onde os trabalhadores viviam. Foi também a era negra do futebol alemão, com grupos de hooligans de extrema-direita a invadirem os estádios e a transformarem as bancadas em locais pouco recomendáveis. O Hamburger Sport-Verein (HSV, ou somente Hamburgo), maior clube da cidade – já com títulos nacionais -, foi um dos afetados pela invasão nos neonazis.

“Quem era de esquerda, deixou de se sentir confortável no HSV e procurou outro clube para ver futebol”, diz, à Tribuna Expresso, Christoph Ruf, autor de vários livros relacionados com a cultura do futebol e ex-residente em Hamburgo. “O êxodo foi parar à porta do St. Pauli, um clube pequeno e sem tradição, mas cuja envolvência estava então muito marcada pelas lutas sociais e pela emergência de subculturas alternativas.”

Artigo exclusivo para subscritores.Clique aqui para ler.

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