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Tribuna Expresso
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Bola de Berlim

Golo? Golo diz-se “Tor”: os 60 anos da emigração portuguesa na Alemanha do Euro 2024

Chegaram há 60 anos como trabalhadores-convidados para fugirem à ditadura ou juntarem dinheiro para regressarem a Portugal. Muitos ficaram e deixaram descendência: há padres que se tornaram sindicalistas, deputadas e treinadores de futebol. Passaram todos por clubes portugueses, em que a bola de futebol e o bacalhau foram pretextos para agregar a comunidade. Agora, muitos estão em risco de encerrar. Este é o terceiro texto da ‘Bola de Berlim’, série de reportagens feitas nas regiões e cidades-sede do Euro 2024
Tiago Carrasco

Tiago Carrasco

Estádio: Deutsche Bank Park/Waldstadion (Frankfurt)

Região: Hessen

No mesmo dia em que aterrou na Alemanha, em março de 1970, o algarvio Ricardo Silvestre, então com 15 anos, estreou-se pela União Desportiva de Mainz (UDP). O pai, um dos fundadores do clube, mandou-o dormir um bocado antes de vestir o equipamento azul e branco e entrar no campo do Clube Operário Português de Gross-Umstadt, outro emblema lusitano de uma localidade próxima, para a celebração do primeiro aniversário da coletividade.

“Estava um dia muito escuro e recordo-me de ficar surpreendido por ainda encontrar tantos prédios destruídos pela guerra”, lembra Silvestre, à Tribuna Expresso. Os pais já estavam a trabalhar em Mainz e a avó, com quem vivia em Faro, não queria que ele fosse parar à Guerra do Ultramar – um destino provável para os rapazes que, até aos 16 anos, permanecessem em Portugal. “Era tudo novo e diferente. Fui para o 9.º ano e, envergonhado e sem saber a língua, sentei-me na última fila. O professor puxou-me para a frente e perguntou-me se eu jogava à bola. O futebol foi fundamental para a minha integração.”

O seu pai tinha chegado cinco anos mais cedo a esta cidade do oeste da Alemanha, a 40km de Frankfurt, ao abrigo do “Gästarbeiterprogramm”, um programa de recrutamento de trabalhadores temporários, fundamentais para a reconstrução do país depois da hecatombe da guerra. Ficara empregado na Kalle, uma empresa química, encarregue da produção de celofane. A Alemanha tinha uma profunda escassez de mão-de-obra. Os acordos começaram em 1955, com a Itália, tendo Portugal sido incluído em 1964 – há precisamente 60 anos.

Na Alemanha, ao contrário do que aconteceu em França, os portugueses não se viram forçados a viajar na clandestinidade, a viver em bairros de lata nem a enfrentar as agruras da pobreza. As autoridades alemãs, com escritórios em Lisboa e no Porto, recebiam das empresas as demandas por trabalhadores e procuravam recrutá-los, tendo como interlocutor nacional a Junta de Imigração, sob vigilância da PIDE. O aparelho opressor da ditadura portuguesa limitava muito a circulação, pretendendo não perder ainda mais homens em idade ativa, potenciais soldados para as suas guerras em África, ou perder o rasto a críticos do regime. Só aqueles que já tivessem cumprido o serviço militar podiam migrar. Assim, o acordo ficou bastante aquém das expetativas da República Federal Alemã (RFA).

“Os portugueses vinham para grandes empresas, com a segurança de um contrato de trabalho e com apartamentos pagos pelas firmas”, diz Silvestre. “Os salários, apesar de serem bastante mais baixos que o dos alemães que faziam o mesmo serviço, eram muitíssimo melhores do que em Portugal.”

Artigo exclusivo para subscritores.Clique aqui para ler.

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