Ciclismo

João Almeida quer ser mais forte, literalmente, para ganhar uma grande volta: “Com maior capacidade física posso atacar mais vezes”

Gostava de voltar a pedalar ao Giro d'Itália e quer trabalhar para ter mais força e não se ter de preocupar com salvar energia durante as etapas. Depois de igualar Joaquim Agostinho, com o 2.º lugar na Vuelta, como a melhor prestação portuguesa numa grande volta, João Almeida vai falhar os Mundiais de ciclismo porque precisa de descansar

Tim de Waele

João Almeida acredita que ainda tem margem para progredir, nomeadamente através de uma maior capacidade física, confessando à agência Lusa que gostaria de regressar à Volta a Itália em bicicleta no próximo ano.

Vencedor no mítico alto do Angliru, o ciclista de A-dos-Francos mostrou nesta Volta a Espanha, que concluiu na segunda posição, a sua nova faceta atacante, mas garante não ter mudado o chip em cima da bicicleta.

“É um João com maior capacidade física e, sendo mais forte, acho que posso admitir atacar mais vezes e ter uma abordagem mais agressiva do que, se calhar, um João um bocadinho com menos capacidade física, que tem de se preocupar mais com salvar energia e poupar nuns momentos para gastar noutros. É uma evolução natural de capacidade física que, obviamente, muda a forma de correr”, analisou.

Apesar de ter somado o seu segundo pódio em grandes Voltas, após ter sido terceiro no Giro2023, e de ter igualado Joaquim Agostinho como melhor português de sempre nas corridas de três semanas, 51 anos depois deste ser ‘vice’ na prova espanhola, o ciclista da UAE Emirates acredita que ainda tem margem para progredir.

“É um caminho que é a longo prazo, a preparação e os treinos não é de um dia para o outro, com um estalar de dedos, é uma coisa que demora tempo e está-se sempre a aperfeiçoar de ano para ano. É um caminho de aprendizagem e uma evolução que demora tempo”, notou, apontando o ganho de “capacidade física” como o aspeto no qual irá trabalhar.

Numa época histórica – tornou-se no primeiro ciclista a vencer no mesmo ano as voltas ao País Basco, Romandia e Suíça -, mas também longa, que incluiu ainda a presença (e a desistência) no Tour, Almeida optou por abdicar da participação nos Mundiais de estrada, que arrancam no domingo em Kigali, no Ruanda, focando-se nos Europeus.

“Correr uma grande Volta para a geral é muito desgastante, ainda por cima também terminei doente. Então, acho que não fazia muito sentido estar presente. Sem uma boa forma e uma boa sensação é preferível dar a oportunidade a outro atleta de representar Portugal, que é uma experiência brutal. Então, num país diferente, numa realidade diferente, acaba por ser enriquecedor”, vincou.

Embora ainda não seja tempo de planificar a próxima temporada, Almeida revelou à Lusa que “gostava de voltar ao Giro”, onde despontou para o estrelato com a sua memorável odisseia como camisola rosa em 2020 e onde subiu ao pódio em 2023.

“É uma coisa que gostava de fazer. Logo vemos o que o futuro nos reserva. Também gostava de fazer a Volta a França, se calhar não no próximo ano, mas noutro ano”, esclareceu.

O melhor voltista nacional não escondeu que gostaria, um dia, de liderar a UAE Emirates no Tour, onde foi quarto classificado no ano passado.

“Acho que talvez o [Tadej] Pogacar não vá fazer a Volta a França para sempre. Algum ano hei de talvez ir como líder ou colíder com ele, quem sabe. Se continuar a evoluir desta maneira, talvez consiga ser um co-líder, obviamente neste momento inferior a ele, mas também pode ser usado como uma carta tática para a equipa poder vencer. Se não, gosto sempre de trabalhar para o mais forte e fazer parte da vitória dele”, disse, referindo-se ao tetracampeão da prova.