“Celebra cada segundo”. A frase escrita no palanque de onde os corredores partiam para o único contrarrelógio individual da Vuelta 2025 dava o mote para João Almeida. Com a geral presa por menos de um minuto, cada pedaço de tempo que o português ganhe é da aproveitar, sobretudo quando, na montanha, a maioria dos duelos frente a Jonas Vingegaard não tem proporcionado grandes diferenças.
Após concluir os 12,2 quilómetros da 18.ª tirada, o caldense disse que se sentia “forte”. O bom estado das pernas foi validado pelo cronómetro. O homem da UAE gastou 13,7 minutos para concluir a jornada, sendo o terceiro melhor da etapa. Jonas Vingegaard foi nono, perdendo 10 segundos para quem lhe quer tirar a camisola vermelha.
Na geral, os 50 segundos que saíram da 17.ª etapa são, agora, 40 segundos. É essa a margem que separa primeiro e segundo, a distância que Almeida tem de recuperar para ser o primeiro português de sempre a ganhar uma grande volta.
O mirrar da extensão da quilometragem dos contrarrelógios individuais nas grandes voltas é uma das principais tendências do ciclismo. O esforço individual de Valladolid, o único desta Vuelta, já era curto, com menos de 30 quilómetros, mas menor ficou devido a questões de segurança que, novamente, entraram de rompante na corrida.
Somando o total dos cronos a solo do Giro (42,3 quilómetros), do Tour (43,9 quilómetros) e da Vuelta (12,2 quilómetros) temos menos de uma centena de quilómetros, algo impensável nos tempos de Indurain ou Armstrong. A Vuelta, a estas alturas do campeonato, parece só querer terminar da forma menos atribulada possível, chegar a Madrid sem embaraços. Pela terceira vez em poucos dias, o percurso foi alterado.
De maior ou menor dimensão, os contrarrelógios são dias que terão ajudado Filippo Ganna a tornar-se um homem mais paciente. Boa parte da carreira do italiano foi passada a esperar, aguardando sentado numa cadeira a olhar para uma televisão. Bicampeão do mundo da especialidade e com 28 vitórias na luta contra o tempo, o encorpado transalpino cedo efetuou o melhor registo da tarde e foi para o assento onde se observa os que partem depois.
Um dos que mais se aproximou foi Ivo Oliveira. O português da UAE gastou mais 10 segundos do que os 13 minutos de Ganna, um duelo recorrentemente visto na pista que passou para o asfalto. Ivo foi segundo durante largos minutos, terminando a jornada em quinto.
Ganna não foi superado. Jay Vine, mais um da UAE, ficou a menos de um segundo do italiano, com a equipa de João Almeida a roçar a oitava vitória de etapa na competição.
O ciclista de A-dos-Francos vai para os três últimos dias com 40 segundos de vantagem. O percurso da próxima tirada não é amigo de recuperações, domingo é para a consagração em Madrid. O olhar estará colocado no sábado, na 20.ª etapa, com o final na temível Bola del Mundo. Sem conseguir, até agora, deixar Jonas Vingegaard para trás na estrada, João Almeida terá uma derradeira chance para o fazer.