Ciclismo

O dia da queda e da dor de João Almeida no Tour de France foi a etapa da vitória triste de Pogačar

A 7.ª tirada trouxe péssimas notícias para o ciclista português. Almeida caiu, perdeu 10 minutos e afundou-se na classificação. No Mûr-de-Bretagne, o campeão do mundo venceu novamente, mas a expressão de Tadej evidenciava a tristeza dentro da equipa pelo incidente com João

Tim de Waele

João Almeida temia esta primeira semana de Tour de France. Receava estas corridas longe da alta montanha, estes cenários de nervos e estradas estreitas, em que a má colocação ou um erro próprio ou alheio destroem uma corrida.

João Almeida achava que esta semana escondia perigos evidentes. E sentiu-os na pele. Literalmente.

Na 7.ª etapa, na chegada ao Mûr-de-Bretagne, os medos do caldense concretizaram-se. Uma zona rápida do percurso. Um instante mal medido. Era a descer. Uma queda, João no asfalto.

A corrida estava lançada, Almeida iria sempre perder tempo. Cedeu 10,13 minutos, afundando-se na geral, caindo para fora dos 20 primeiros. É 28.º, a 12,21 minutos da amarela, a mais de 10 minutos do pódio. Chegaria cabisbaixo, cheio de marcas da queda, o equipamento esburacado, sangue à vista. Cruzou a meta com Nelson Oliveira, veterano do pelotão, compatriota, sempre fiel e leal amigo.

As aspirações do português à geral ficam seriamente comprometidas. Veremos como isto afetará a forma do homem da Emirates, não só para o resto do Tour, mas para a Vuelta, onde Almeida queria ir com grandes ambições. Para já, a informação oficial, vinda de quem trabalha com o 4.º classificado da última Volta a França, é que "em princípio está bem". Aguardemos pelo esfriar da dor.

Depois da Normândia, o Tour chegou à Bretanha, desenhando um percurso em torno do hexágono gaulês no sentido inverso ao dos ponteiros do relógio. Diz-se que os bretões vivem o ciclismo como poucos, conta-se que é nestas estradas que está uma espécie de lar emocional das bicicletas no país. Bernard Hinault, o último dos franceses a triunfar na Volta a França, é bretão, claro.

Anulada a fuga do dia, onde andou Geraint Thomas, vencedor do Tour 2018 que, na temporada da despedida, já não parece estar para estas aventuras, o público abraçou a discussão da jornada. O fim de semana, numa estranha decisão, trará dois dias de sprint, pelo que esta tirada, simbolicamente, fechava uma primeira semana de sobe e desce, de pequenas clássicas dentro da maior das provas por etapas, de nervos e cortes no pelotão.

Após chegar à amarela, Mathieu Van der Poel não teve forças para triunfar de novo onde ganhara em 2021. Seria 22.º entre os homens da geral.

O Mûr-de-Bretagne, com os seus dois quilómetros com zonas a 16%, seria palco de novo confronto entre o pódio de 2024. Tadej, Jonas, Remco. O campeão do mundo foi mais conservador do que o normal, não havia João Almeida para acelerar e o facto da ausência do português condicionar um candidato a melhor de sempre prova o nível de Almeida.

Foi ao sprint, com Pogačar a ganhar, como quase sempre. São já 19 vitórias de etapa no Tour, a 16 de Cavendish, apenas atrás de seis corredores. Vingegaard agarrou-lhe a roda e foi 2.º, Onley, Gall, Jorgenson, Evenepoel e Vauquelin chegaram dois segundos depois. Na geral, Tadej tem 54 segundos de vantagem para Evenepoel, 1,11 minutos para Vauquelin e 1,17 para Vingegaard.

Na entrevista após o final, Pogačar não apresentava o seu carismático e conhecido sorriso. "Infelizmente, o João caiu. Espero que ele esteja bem. Se ele estiver bem, é um dia perfeito, caso não estiver bem, esta vitória é para ele. Neste momento, só desejo que ele esteja bem", comentou o esloveno, de olhar triste.