Nuno Borges era o derradeiro tenista português no Estoril Open, o maior torneio em Portugal, país que ainda não sabe se terá uma prova deste calibre, um ATP 250, no próximo ano devido à compressão do calendário do circuito. Tê-lo a jogar nos quartos de final, suando e correndo e tudo tentando para se manter em competição, encheu o court principal de gente fervorosa, já esquentada pelas brasas emocionais da despedida de João Sousa, no início da semana.
O público nas bancadas do Estoril Open, como se tem visto em outras áreas da sociedade, pareceu futebolizar-se por instantes, já perto do cerrar da partida. Às tantas, o árbitro pediu para que as pessoas não gritassem durante os pontos e recebeu assobios em resposta; no final do jogo, quando anunciou o resultado da vitória de Cristian Garín contra Nuno Borges, em dois sets (6-2, 7-6), o coro sibilante adensou-se. Ambas reações incomuns no ténis, mas batidas em estádios com relva e balizas.
Esse escaldar das gargantas vinha de trás. No renhido segundo parcial, decidido apenas no tie-break, houve uma bola caricata que culminou na duvidosa decisão dos encarregados do jogo e da organização do torneio. Uma pancada de Garín fez a bola bater sobra a linha de fundo e alguém gritou que tinha ressaltado fora do campo, mas Nuno Borges devolveu-a para o chileno, depois, ao tentar acelerá-la, bater um direita que calhou, de facto, além fronteiras do campo.
De pronto, Garín protestou com o árbitro, que lhe daria o ponto apesar de não ter acertado a última pancada - e de a suposta bola julgada como fora ter sido berrada por uma pessoa na bancada. Por culpa de alguém presente no público, o público, então, assobiava a decisão do juiz de cadeira e do diretor técnico do Estoril Open, chamado ao court por um incrédulo Nuno Borges. O clima de um jogo bastante disputado nesse parcial, com intensas trocas de pancadas, contava daí por diante com outro ambiente vindo das bancadas.
Quando o chileno, feito o cumprimento a Nuno Borges junto à rede, se dirigiu ao formalismo da entrevista no court ao vencedor, os silvos ainda se ouviam. O condutor de cerimónias do torneio, munido do microfone, teve de pedir ao público “desportivismo” para ter o silêncio costumeiro e necessário que lhe permitisse fazer perguntas ao tenista chileno que, após o último ponto do jogo, celebrou efusivamente a passagem às meias-finais. Antes, no ponto da discórdia, não pareceu pugnar pela repetição da jogada, dado que fora ele a falhar a bola.
O português Nuno Borges, 62.º classificado do ranking mundial, acabara de ser eliminado nos quartos de final do Estoril Open com polémica à mistura e tinha de se pedir silêncio para o vencedor ser ouvido na arena.
Quando cessaram os assobios, Cristian Garín abordou o tema sem o mencionar. “O ambiente foi incrível, não sei o que aconteceu, mas às vezes pode suceder durante um jogo, foi muito renhido e ambos jogámos muito bem. Percebo a vossa frustração, mas tentei ganhar e estou muito feliz aqui em Portugal. Tento sempre dar o meu melhor, compreendo, claro, mas tenho a certeza que o Nuno será muito, muito melhor nos próximos anos”, disse, algo atrapalhado, para as pazes serem feitas. Quando se calou após a primeira resposta, seria ovacionado.
Duas horas e 10 minutos de jogo fizeram o 112.º tenista do mundo prevalecer na terra batida do Estoril Open. O chileno tratou de retirar ao torneio português o seu último tenista português em prova, teve uma atitude que trouxe os assobios futebolísticos ao court e a sua espécie de mea culpa serenou-os, no final. Quem, um dia, chegou a ser o 17.º melhor jogador do ranking vai defrontar o polaco Hubert Hurkacz (10.º) nas meias-finais.