O Centralito tem um ar a casa espiritual do ténis português. Entre as colunas que lembram arquitetura romana e o pó de tijolo já pisado por quantidades incalculáveis de seres humanos de raquetes na mão, guardado pelas árvores da mata e embelezado pela sua singularidade, o court localizado no coração do Complexo de Ténis do Jamor emana história e tradição, como se nele se fundissem as memórias do que passou, as emoções do que se está a viver e os sonhos do que virá.
Em abril, o Centralito foi palco de celebração para a seleção nacional na Billie Jean King Cup, a competição feminina por equipas de países. Naquele dia de primavera, havia uma banda sonora que se juntava ao seco bater de bolas amarelas em cordas ou ao ruído do deslizar dos pés na terra batida. Era Maria Garcia, constantemente no banco a martelar com uma garrafa de água no muro que a separava do campo, em apoio à colega que estava a jogar. Ao lado da adolescente de 16 anos estavam Matilde Jorge, Inês Murta e Angelina Voloshchuk, as restantes não utilizadas naquele embate decisivo contra a Geórgia.
Do outro lado do muro sentava-se Neuza Silva, a capitã — isto é, selecionadora. No court, Francisca Jorge, a número um nacional e atual 281.ª do ranking WTA, derrotava Ekaterine Gorgodze para selar a vitória de Portugal na eliminatória contra a Geórgia. Ali, na sequência de outros triunfos contra a Israel, Malta, Bósnia e Grécia, garantia-se a promoção ao Grupo I da zona Europa-África do torneio, a segunda divisão da competição, onde a seleção não estava desde 2018.
A festa foi feita à base de abraços, sorrisos cúmplices e cânticos. A celebração baseava-se no momento, claro, mas escondia outro pano de fundo mais estrutural: cada vitória do ténis feminino português soa a pequeno passo dado na subida de uma escada rumo à visibilidade, ao impacto, ao maior destaque que tudo alavanca.