Aqui há um ano uma nova expressão entrou no léxico do ténis: isenção médica. Era essa exceção que permitiria a Novak Djokovic, então número um mundial, entrar na Austrália para jogar e defender o título no primeiro torneio do Grand Slam, mesmo não estando vacinado contra a covid-19, condição essencial para colocar os pés em terras down under.
A autorização estaria na sua mão, anunciou-o nas redes sociais antes de partir e tudo, mas quando o nove vezes vencedor do Open da Austrália tentou entrar no país, via-Melbourne, começou o drama. Colocado numa sala durante cinco horas, sem telemóvel e com dois polícias à porta, Djokovic foi interrogado e no final o seu visto foi cancelado e a entrada no país negada.
Seguiu-se então uma curta batalha jurídica, com um dos melhores tenistas do planeta preso num hotel fajuto à espera da expulsão, um visto revogado pela segunda vez e, finalmente, a deportação, que na Austrália significa normalmente o impedimento de entrar no país por um período de três anos. Mas também porque Novak Djokovic não é um simples cidadão deste mundo, essa proibição foi revogada em novembro, com o governo australiano a conceder um visto ao sérvio, numa altura em que já não existem qualquer tipo de restrições de entrada no país, nem mesmo prova de vacinação.
E foi assim sem qualquer tipo de problemas que o vencedor de 21 títulos em torneios do Grand Slam entrou na Austrália na terça-feira, facto confirmado pela Tennis Australia e que não precisaria de mais confirmação a partir desta quarta-feira, quando o número 5 do ranking surgiu em court para se treinar em Adelaide, onde a partir de domingo vai disputar o torneio ATP 250 local.
Receção do público
Novak Djokovic é o tenista que mais vezes levantou a taça de campeão do Open da Austrália, criando uma ligação especial com o público do país, reforçada pela imensa (e ruidosa) comunidade balcânica que enche as bancadas do Melbourne Park a cada edição do chamado happy slam. A tentativa de entrar no país sem estar vacinado e utilizando um expediente que contornaria de alguma forma as regras do país, significou uma quebra desse laço afetivo, numa nação que enfrentou alguns dos mais duros confinamentos durante o pico da pandemia.
A reação será epidérmica e só se conhecerá quando Djokovic entrar pela primeira vem em campo em Adelaide, mas Craig Tiley, diretor do Open da Austrália, está confiante que o sérvio, que procura em Melbourne um inédito 10.º título, será bem recebido pelo público australiano.
“Tenho muita confiança no nosso público”, disse em conferência o responsável pelo torneio: “É um público bem formado em questões desportivas, particularmente no que diz respeito ao ténis. Adoram ver grandeza, adoram ver grandes jogos e grandes demonstrações de atleticismo. Tenho muita confiança que os adeptos vão reagir tal e qual nós esperamos que reajam”.
O Open da Austrália, onde Djokovic surge como favorito e com possibilidades de igualar os 22 títulos do Grand Slam de Rafael Nadal, arranca no próximo dia 16 de janeiro.