A feitura de Portugal no Mundial de râguebi promete ser uma gloriosa ferida aberta para outros momentos especiais na modalidade. A vitória contra as Fiji (24-23), no derradeiro jogo da fase de grupos do torneio, teve em Nicolas Martins a figura das figuras. O flanqueador de Portugal, nascido em Toulouse, onde foi o duelo histórico contra as Fiji, já o havia sido contra País de Gales, na estreia na competição.
“É incrível. Trabalhei muito para isto, não há palavras, é histórico, estou tão feliz, é a melhor noite da minha vida”, ia confessando na ressaca da primeira vitória dos portugueses num Mundial. “Somos uma equipa de amigos de França e Portugal, mas vivemos juntos, é algo incrível. Os adeptos são incríveis, o público estava a nosso favor. As Fiji jogaram bem, mas tudo isto… não tenho palavras.” As palavras eram inúteis quando fechamos os olhos e ainda vemos aquela gente toda, no relvado, a celebrar com a alegria de uma criança.
A torneira da felicidade de Martins ainda não foi fechada. Nas últimas horas recebeu a notícia de que constava do 15 inicial da fase de grupos. E que bem fica o número 7 português ao lado de Andrew Porter, Peato Mauvaka, Ben Tameifuna, Tadhg Beirne, Theo McFarland, Michael Leitch, Greg Alldritt, Antoine Dupont, Johnny Sexton, Davit Niniashvili, Bundee Aki, George North, Damian Penaud e Hugo Keenan. Também o aventureiro Raffaele Storti, em bom plano neste Mundial de râguebi, foi escolhido para integrar o banco deste torneio. Ou seja, está no leque dos oito melhores jogadores a seguir aos 15 melhores.
Nicolas Martins só não é o rei da placagem neste Campeonato do Mundo (63) porque Sione Talitui, de Tonga, completou mais seis tackles do que o luso-francês, um homem poderoso e técnico ao mesmo tempo, capaz de travar prometedoras cavalgadas alheias.
Aos 24 anos chegou ao pináculo da sua vida desportiva, numa modalidade que começou a jogar aos sete anos, em Colomiers. A culpa foi de um primo, contou recentemente o “Rugby World” (RW). Foi trocando afetos e cumplicidades com a bola oval e o judo e o basquetebol foram ficando para trás.
Mais a sério no râguebi, Nicolas Martins começou a jogar no US Colomiers, passando depois por clubes como Tournefeuille e Avenir Castanéen Rugby XV. Atualmente, o gigante atleta português, de 1.96m e 100 quilos, joga dentro da camisola do Soyaux-Angoulême VX Charente.
De acordo com o “RW”, os ídolos deste “asa” são Thierry Dusautoir e Richie McCaw. Mas partir deste Mundial, gente como Nicolas Martins, Storti, Tomás Appleton e Nuno Sousa Guedes talvez pulem a cerca da admiração e passem para o outro lado, passando eles a serem os heróis e referências de meninas e meninos que gostam ou aprenderam a gostar de râguebi.