De um ponto de vista puramente económico e partido do lugar da FIFA, alargar o número de seleções que jogam um Campeonato do Mundo faz sentido: quanto mais equipas houver do torneio, maior será o número de partidas, mais chorudo se tornará o pacote de direitos televisivos para a entidade vender a interessados, mais oportunidades de exposição poderá vender a empresas que queiram patrocinar a prova e concomitantemente, se estas peças foram tombadas, uma a uma, pela lógica, mais gordos serão os ganhos com cifrões da entidade.
Neste dominó da FIFA, cuja maior fonte de receita é, desde a sua fundação, o Mundial que organiza a cada quatro anos, há muito que se debate a hipótese de aumentar o lote de seleções participantes na competição. É cíclico. O torneio arrancou em 1930 com 13 equipas, fixando-se nas 16 logo em 1934 e mantendo a dimensão até 1982, quando engordou para as 24 que viraram 32 em 1998. O torneio do próximo ano, acolhido por EUA, México e Canadá, será o primeiro a ter 48 seleções e, pelos vistos, a sede por mais já é discutida a sério.
O “The Athletic” noticia que a ideia foi tema de conversa na sede da FIFA em Nova Iorque, na terça-feira, com foco na sua possível concretização já em 2030, no que será a versão mais inventiva do torneio: para assinalar edição centenária, esse Mundial terá Portugal, Espanha e Marrocos como os anfitriões formais, embora arranque do outro lado do Atlântico com a Argentina, o Paraguai e o Uruguai a acolherem as partidas inaugurais. Ou seja, além de ser jogado em seis países e três continentes, poderá ainda vir a ser disputado pelo dobro das seleções que estiveram em 2022, no Catar.
Contactada formalmente, um porta-voz da FIFA afirmou à Tribuna Expresso desconhecer o que foi discutido nessa “reunião privada”, remetendo para a postura que a entidade já assumira anteriormente este ano: tem o dever de analisar qualquer proposta submetida por um dos seus membros. Explicou também que o encontro de terça-feira com os líderes da CONMEBOL, que reúne as federações de futebol da América do Sul, além das associações da Argentina, do Uruguai e do Paraguai, inseriu-se na série de reuniões que a FIFA terá esta semana com as nações anfitriãs do próximo Mundial. As próximas serão com dirigentes de Portugal, Espanha e Marrocos.
O primeiro pingo desta ideia foi proposto à FIFA em março, aquando de uma reunião do seu comité executivo e feita por Ignacio Alonso, presidente da Federação de Futebol do Uruguai, escreveu então o “The New York Times”. O mesmo dirigente partilhou agora várias fotografias, no seu Instagram, da reunião de terça-feira, incluindo uma publicação de Alejandro Domínguez, líder da CONMEBOL e também presente na pequena cimeira, na qual se lê: “Queremos fazer um chamamento à unidade, à criatividade e ao Acreditar Sempre. Porque quando o futebol se vive entre todos, a festa é verdadeiramente mundial.” Nada indicam de concreto, mas a mensagem subliminar é sugestiva.
A possibilidade de aumentar o número de seleções participantes no Campeonato do Mundo, fosse em 2030 ou mais tarde, não constou na ordem de trabalhos do último Congresso da FIFA realizado no Paraguai, em maio, portanto, nem chegou a ser formalmente discutida pelos dirigentes dos 211 membros da entidade - caso o alargamento venha a concretizar-se, significa que cerca de 30% dos países integrantes da FIFA teriam as suas equipas nacionais presentes na maior prova desportiva do planeta.
Mas, nessa ocasião, Alejandro Domínguez já plantara a semente da grandeza, sem a precisar. “Gostaria de vos convidar a refletirmos juntos para que possamos fazer algo pelo qual o mundo espera e que a comunidade do futebol merece. É o que o futebol nos ensina - a jogarmos como uma equipa”, sugeriu, ao discursar perante o Congresso. O líder da CONMEBOL terá as suas atenções, também, na força da lógica.
Caso, eventualmente, o Mundial de 2030 contasse com 64 seleções, a prova ficaria com 128 jogos (o dobro dos 64 realizados no Catar, em 2022) e abriria a janela para o Uruguai, a Argentina e o Paraguai acolheram mais do que as três partidas que lhes estão destinadas, de momento. O que contrariaria outra lógica que fortaleceu, desde há quase 100 anos, a mística do torneio - ao disputar-se apenas a cada quatro anos e reservado a poucas seleções, era deveras difícil, e logo especial, chegar à fase final.