Futebol internacional

G’day, mate: Tottenham confirma Ange Postecoglou, que será o primeiro treinador australiano na Premier League

Aos 57 anos, o técnico australiano chega a Londres envolto na mesma desconfiança com que chegou a Glasgow há dois anos, onde acabaria por vencer cinco títulos, incluíndo dois campeonatos. Postecoglou, que chegou à Austrália aos cinco anos, vindo de barco da Grécia, é a inesperada resposta dos Spurs a uma temporada de desilusão

Jane Barlow - PA Images

Longe vão os tempos em que ver técnicos não britânicos no futebol inglês era material do campo do esotérico. Hoje eles são a maioria, o título até foi uma luta entre dois espanhóis e em tempos foi um francês, Arsène Wenger, também ele recebido com perplexidade no Arsenal nos idos de 1996, a explicar-lhes que não, um jogador não podia comer ou beber tudo o que lhe desse na gana. Ainda assim, quase 30 anos e muito profissionalismo depois, há nacionalidades que ainda provocam um franzir de olho no adepto mais tradicional e a ideia de abrir as portas a um treinador vindo do país em que o râguebi e o críquete são as modalidades mais populares não foi recebida com entusiasmo na mole humana que forma as bancadas do Tottenham.

Mas terão mesmo de se habituar à ideia: falou-se de Julian Nagelsmann, até de Rúben Amorim, mas foi Ange Postecoglou a ser estar terça-feira confirmado como o próximo treinador do clube do norte de Londres, tornando-se assim no primeiro técnico australiano da história da Premier League. O contrato é longo, quatro anos, com Daniel Levy, o chairman dos Spurs, a sublinhar que o antigo selecionador dos socceroos trará “uma mentalidade positiva e um estilo de jogo rápido e de ataque”.

Nascido na Grécia, nos arredores de Atenas, há 57 anos, Ange Postecoglou fez parte da imensa vaga de emigração grega para a Austrália, onde chegou de barco em 1970, com 5 anos. A família instalou-se em Melbourne, onde Ange jogou toda a vida, no South Melbourne, primeiro clube que viria a treinar. Depois de uma passagem pelos bancos das seleções jovens da Austrália, levou o Brisbane Roar a dois títulos australianos. Esteve também 36 jogos sem perder no clube. Treinou ainda o Melbourne Victory antes de chegar à seleção principal da Austrália, vencendo a Taça da Ásia em 2015, o maior título do futebol australiano, e qualificando a equipa para os Mundiais de 2014 e 2018 - não chegaria a treinar no Mundial na Rússia, já que se demitiu duas semanas depois da qualificação.

Seguiu-se então uma passagem com sucesso no Japão, onde foi campeão com o Yokohama F. Marinos, saindo daí para a liga escocesa, para treinar o Celtic, onde foi recebido com a mesma desconfiança que terá agora em Londres. Foi o seu trabalho em Glasgow, ali tão perto, que abriu os olhos da Premier League: em duas temporadas, o australiano foi bicampeão, vencendo ainda por duas vezes a Taça da Liga e a Taça da Escócia esta época, com o português Jota no plantel.

Aos responsáveis do Tottenham não terá passado despercebido o ataque leve do Celtic, o futebol de alta pressão, a ideia de baliza sempre presente. Mas o primeiro embate será ultrapassar o ceticismo dentro de uma equipa que na última temporada teve três treinadores, dois deles interinos, e que terminou a Premier League no 8.º posto, com algumas copiosas derrotas pelo meio, como o 6-1 frente ao Newcastle, jogo em que aos 21 minutos a equipa já perdia por 5-0, o que levou mesmo os jogadores a devolverem o dinheiro dos bilhetes aos adeptos.