A bola suplente estava há muito tempo sossegada em cima do cone. José Mourinho não estava chateado com ela quando a chutou para parte incerta. Tratou-se apenas de uma maneira de exteriorizar a euforia que o 3-0 lhe provocou. A serenidade perdeu-se num momento em que já não precisava de compostura ou de esconder o desejo incessante de causar uma boa primeira impressão.
Passaram 50h30 desde o momento da oficialização como novo treinador do Benfica e o pontapé de saída na Vila das Aves. O Special One teve impacto imediato, vincando uma maneira concreta de jogar. A perfeição não esteve ao alcance, mas o estatuto compra o benefício da dúvida. O passo importante de limpar o pó a uma equipa com mazelas dos resultados contra o Qarabag e o Santa Clara foi dado.
Sabe-se que José Mourinho veio comemorar as bodas de prata da carreira como treinador principal à Luz, local onde a começou. A festa proporcionou ao AFS-Benfica honras de clássico, dias frenéticos para os repórteres de imagem que formam uma caravana atrás de autocarros para captarem a melhor imagem da retaguarda dos veículos. Definitivamente, a reestreia não foi só mais um dia no futebol português.
Certamente, nestes 25 anos, esteve em templos do futebol que o fazem parecer desenquadrado na modesta infraestrutura desportiva da Vila das Aves. Por mais reconhecido que seja, não resistiu a invadir uns metros do campo para corrigir a relva. De resto, as movimentações não foram exuberantes: mãos nas ancas e um olhar penetrante que desprezava o enxame de atenção.
A “nação benfiquista”, como designou Mourinho os adeptos encarnados, pediu encarecidamente a “um dos melhores treinadores do mundo” que invocasse “mais garra” aos jogadores. Ele até queria “meter o dedo muito ao de leve”, referiu, prevendo que “radicalizar” pudesse ser nocivo, mas acabou por ir um pouco mais longe.
Na prática, os retoques passaram por ter jogadores a fixarem a linha defensiva – Ivanovic sobre a esquerda, Ríos ou Aursnes sobre a direita e Pavlidis ao centro – gerando espaço para Sudakov flutuar à frente de Barrenechea e para Dedic e Dahl não terem razões para desconfiar quanto ao benefício das suas subidas. Naquele tridente estava a hipótese aumentar a presença em zonas de finalização e garantir sempre prontidão no ataque à profundidade.
Verter Ivanovic não gerou grande poder de associação, mas foi um bom engodo quando Dahl fez um cruzamento, aos 12 minutos, que excedeu ligeiramente os limites do campo, anulando o golo do croata. Era o efeito Mourinho a borbulhar.
Fábio Espinho viu-se num imbróglio. No primeiro jogo de sempre como treinador principal, ao substituto de José Mota calhou-lhe decifrar alguém que ficou célebre por ser um mestre da tática. Foi através da vertigem de Óscar Perea e Babatunde Akinsola que o AFS respondeu a um Benfica brevemente pouco compacto e a agir com bondade sobre o portador da bola.
Tomané tinha acabado de atirar ao poste da baliza de Trubin e a equipa que tem apenas um ponto conquistado no campeonato parecia ter perdido a atitude timorata. Ainda assim, foi nessa fase que o Benfica marcou. Sudakov, que tinha sido uma das poucas boas notícias da derrota contra o Qarabag, também se aconchegou na amálgama de gente que os encarnados foram capazes de colocar nas redondezas de Simão Bertelli, dando aos AFS mais problemas do que pés para os resolverem.
No meio de tudo isto, alguém terá dito a Pavlidis para vazar a vontade de baixar e completar passes curtos que o fazem sentir-se vivo no jogo. Contrariando o que parece ter sido a perda de influência do grego, Ivanovic cresceu ao ponto de ser o elemento frequentemente mais perigoso das águias. Cristian Devenish até lhe negou o golo em cima da linha de baliza,
Numa inversão da lógica das coisas, Pavlidis fpo premiado com o 2-0, conseguido de grande penalidade. Sidi Bane já tinha arriscado na primeira parte e, na segunda, cometeu mesmo infração sobre Otamenti. Para recompensar o companheiro de setor, o ex-AZ Alkmaar assistiu Ivanovic para um golo que dissipou as incertezas causadas pela reação do AFS perto do intervalo. Num segundo tempo com menos sobressaltos, apenas com um pouco vigoroso desvio de cabeça de Guilherme Neiva, o Benfica teve a reação que se exigia ao caos recente.