Crónica de Jogo

João Neves e Trubin trazem festas felizes para o Benfica

Com o português e o ucraniano novamente em destaque, os campeões nacionais derrotaram (3-0) o Famalicão. Arthur estreou-se a marcar na I Liga aos 31', mas na segunda parte a qualidade do guardião das águias e o poste evitaram o 1-1, antes de Rafa e Musa confirmarem o triunfo

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Como estavas a 8 de dezembro? Para o Benfica, os 21 dias que passaram foram mais do que isso. Desde aquela data que as águias não disputavam um jogo da I Liga em casa e, passado o Natal e com o ano novo à porta, muito parece diferente para os campeões nacionais.

No último encontro do Benfica na Luz para a I Liga, o empate contra o Farense gerou um clima de divórcio entre as bancadas e Roger Schmidt, levando o clube para uma pré-crise na antecâmara das muito importantes visitas a Salzburgo e Braga. Mas eis que o período festivo só trouxe alegrias.

Triunfo na Áustria e continuidade na Europa garantida; vitória sobre o SC Braga; ganhar ao AVS e estar na final a quatro da Taça da Liga; e, agora, derrotar (3-0) o Famalicão para entrar bem em 2024. Arthur Cabral marca, as substituições de Schmidt são aplaudidas, amigos como dantes à espera do que traga o ano novo.

Mas as canções e festejos da quadra não devem tirar lucidez de análise. Como noutras alturas da época, o êxito do Benfica ampara-se em dois jovens que agarram na equipa e a fazem competir noutra dimensão. As luvas de Trubin e o futebol de gladiador com pés de bailarino de João Neves são o oxigénio deste coletivo.

Entre a estreia de Cabral a marcar no campeonato e os golos de Rafa (aos 85') e Musa (aos 89') houve muito Famalicão na Luz. Os minhotos chegaram várias vezes com perigo, mas a qualidade do ucraniano que estava a proteger as redes adversárias e o poste, que repeliu um tiro de Zaydou aos 72', mantiveram os locais com vantagem. E a alegria continua na Luz. 8 de dezembro foi, emocionalmente, há mais do que 21 dias.

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Se o tema é felicidade, a Luz não é local de boas recordações para o Famalicão. Em 14 visitas, já contando com esta, os minhotos foram derrotados em 13 ocasiões, só empatando uma vez. O bósnio Dane, em 1991/92, foi o último jogador do Famalicão a marcar na casa do Benfica para o campeonato.

Num onze marcado pelas ausências de Otamendi e Di María, chamava a atenção a presença do Seixal. Tomás Araújo e António Silva reeditavam uma dupla de glória na Youth League, Tiago Gouveia prometia agitar a partir da ala, João Neves já é um inevitável no meio-campo. Gouveia, cheio da fome e agressividade típicas do seu jogar, foi o primeiro a causar perigo, fletindo da esquerda para o meio para obrigar Luiz Júnior a defesa apertada.

O Famalicão procurava roubar ímpeto ao Benfica através de Zaydou Youssouf, o médio perna-longa que pisa a bola, gira e foge da pressão. Mas havia outro nome que queria mandar no Equador do campo do outro lado.

O futebol de João Neves é composto por camadas. A superfície é de rapaz franzino de bons pés, aspirante a médio que adocica o jogo. Mais no fundo há agilidade para se mexer em espaços curtos, pés que mudam de direção rápido. E, bem no interior, há o espírito guerreiro, a alma, a chama imensa que resgatou o Benfica no dérbi ou em Salzburgo.

Aos 31', o algarvio bailou sobre João Neves, abrindo caminho para a velocidade de Rafa. O campeão da Europa de 2016 assistiu Arthur Cabral, que marcou pela primeira vez na Luz.

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Se os visitantes nunca incomodaram Trubin no primeiro tempo, os instantes iniciais do segundo mostraram logo uma equipa diferente. Mais agressivo na pressão e rápido no ataque, o Famalicão explorou alguma apatia dos campeões nacionais para se aproximar da baliza adversária.

No entanto, o crescimento dos homens de João Pedro Sousa encontrou-se com a valia de Trubin. No espaço de poucos minutos, o homem de Leste tirou o 1-1 a Chiquinho, lançado na velocidade por Moura, e a Theo Fonseca.

Num duelo de luvas vestidas, Luiz Júnior não queria ficar atrás de Trubin. O brasileiro evitou o 2-0 num par de ocasiões, primeiro numa trivela de João Neves, que continua a mostrar artes desconhecidas do seu repertório, e depois num disparo forte de Arthur Cabral, na sequência de uma das supersónicas arrancadas de Rafa.

Mas era o Famalicão que estava melhor. Talvez o momento do final de tarde tenha surgido aos 72'. Zaydou, num tiro cheio de fé, atirou ao poste. Logo a seguir, Gustavo Sá, o menino que parece um daqueles médios ingleses de há 20 anos que apareciam na área para finalizar, cabeceou ao lado. O 1-1, que passou tão perto dos visitantes, desapareceria definitivamente das opções.

Com espaço, o desafio entrou na zona Rafa Silva, onde só ele se move e vive, na dimensão em que a velocidade que coloca é inigualável. Em combinação com o recém-entrado Musa, fez o 2-0 aos 85' e serviu o croata para o 3-0 aos 89'. As festas do Benfica de Trubin e Neves são felizes. O que é que aconteceu mesmo a 8 de dezembro?