Aquele lance bizarro, chamemos-lhe assim, aos 31 minutos, quando o árbitro assistente, contra todas as indicações das leis dos apitos, alçou a bandeirola para logo se arrepender, deixando os jogadores do FC Porto, que são humanos e pessoas com instintos, parados à espera que o lance do Shakhtar ali tivesse acabado, poderia ter sido um problema gordo. A precisar apenas de empatar, o FC Porto entrou bem, vencia então com um golo de Galeno, marcado logo aos 9 minutos, e dominava emocionalmente a partida, pressionando o adversário, que no primeiro quarto de hora só havia criado algum frufru na área portista num livre lateral.
Antes desse minuto 31, já Gocholeishvili tinha suscitado uma defesa tão complicada a Diogo Costa quanto a ortografia do seu nome. Depois seria Sikan a encostar a bola para a baliza fazendo um empate altamente contestado pelos jogadores portistas.
Problema gordo também poderia ter acontecido quando, aos 72’, o Shakhtar reativou um jogo que parecia mais que resolvido. Galeno, que adora marcar aos ucranianos, bisou ainda antes do intervalo, tal como havia feito no jogo da 1.ª volta em Hamburgo, num remate seco à entrada da área, na sequência de um livre lateral e de um belo trabalho de Zaidu e depois de Pêpe. Já na 2.ª parte, Taremi fez o 3-1 aos 62’, com Galeno de novo na jogada, a tratar bem uma bola mal tratada pela defesa do Shakhtar, que a perdeu a meio-campo. Um momento de desatenção de Jorge Sánchez (Jorgie para os amigos), deixou Sikan em frente a Diogo Costa, que defendeu o remate diretamente para o corpo de Eustáquio. A bola entrou e, sem que nada o fizesse prever, apareceu um perigoso 3-2 no marcador.
Acontece que, aos dois momentos tensos, o FC Porto respondeu friamente, resolvendo-os de pronto, não se deixando enredar por dúvidas ou medos. Se ao primeiro golo do Shakhtar os dragões responderam com aquele remate seco de Galeno, o 3-2 dos ucranianos recebeu aviso de receção quatro minutos depois, com o eterno Pepe a reforçar o recorde de jogador mais velho a marcar na Champions. Na sequência de um canto, Galeno deu o primeiro toque, aumentando o pecúlio do jogo para dois golos e duas assistências, e Pepe estava lá para a emenda. A ideia de um FC Porto granítico a nível emocional na Liga dos Campeões não é uma reputação infundada e esta noite, no Dragão, houve várias provas de vida europeia da equipa.
Com o 4-2, o jogo assumiu uma toada um tanto ou quanto louca, ou pelo menos mais destrambelhada do que até então. Havia espaços, as noções táticas já eram, com a equipa que foi obrigada a abandonar Donetsk em 2014 a tentar um grito desesperado que terminaria, invariavelmente, em erros. Um deles foi aproveitado por Francisco Conceição segundos depois de entrar: aos 82’, o jovem extremo cheirou as dificuldades a sair de Bondar, roubou-lhe a bola e fez o 5-2. A passagem aos oitavos de final já não seria incomodada e o FC Porto será a única equipa portuguesa nesta fase da liga milionária - é a 6.ª vez nos últimos 10 anos, a 5.ª com Conceição, o que nos diz bem da firmeza da equipa nestes momentos.
Ainda assim o jogo não acabará sem preocupações para Sérgio Conceição. Com os erros individuais da equipa, para começar. Primeiro o de Jorge Sánchez no 3-2 do Shakhtar e depois Grujic, que ao tentar sair a jogar com um túnel ao adversário, ofereceu-lhe o que seria o 5-3, lance algo infantil aos 88’ que selaria o resultado final - esses três golos sofridos não serão esquecidos pelo treinador. E, por fim, as queixas de Pepe no final do jogo, com claras dificuldades físicas a poucos dias do clássico com o Sporting.