Todos tínhamos na memória o último SC Braga - Sporting. Primeira jornada da época passada, sol, emoção, 3-3, festa dos golos.
Pouco mais de um ano depois, as equipas de Artur Jorge e Rúben Amorim voltaram a protagonizar o primeiro teste entre candidatos ao primeiro lugar. Mas não estamos em agosto, já é setembro, o sol vai dando lugar à chuva, o mercado fechou, a rentrée está aí, a escola vai começar.
Estas diferenças fizeram-se ver num duelo que não teve a explosão de agressividade ofensiva do apogeu do verão, mas o duro regresso à realidade do fim de férias. Houve fricção e combate, picardias e disputas, muita intensidade, competitividade para dar e vender, mas poucas balizas.
Dos quatro remates — dois de cada equipa — que foram enquadrados com as balizas adversárias, dois foram especiais. Como noites de setembro ainda com ares de agosto, lembranças agarradas que não se querem ir embora, alimento para o outono. Dos pés de Pote e Alvaro Djaló saíram as obras que fizeram o 1-1 final. Novo empate, nova igualdade alcançada pelo SC Braga depois de o Sporting estar na frente, mas mais escassa em golos, no entanto não isenta de arte.
Com os locais na ressaca do apuramento para a fase de grupos da Liga dos Campões e os visitantes sem mudanças no onze face à jornada passada, o jogo começou com receios e calculismos, avisando que este não era desafio para loucuras. Talvez levando à letra esta cautela, o Sporting de Braga foi recuando quando, aos 25', Diomande, o central dos pés suaves foi subindo com bola.
O costa-marfinense que engana adversários com o corpo descobriu Pote, que foi mais Pote que nunca na finalização: deixou a bola rematar, ajeitou o corpo, visou a baliza, para a qual fez um remate que foi um passe a beijar as redes de Matheus. 1-0 com um cheirinho a golo vindo do ano do título.
Em desvantagem no marcador, o Sporting de Braga libertou o talento de Bruma e Ricardo Horta. Os dois, teóricos extremos, deambulavam por todo o campo, o primeiro leve como o vento, o segundo venenoso, sempre olhando para a baliza para procurar marcar ou assistir.
Aos 30', de uma investida de Bruma que começou no centro, fletiu para a direita e associou-se com Abel Ruiz, quase chegou o empate. O craque que fez formação no Sporting rematou por cima. Logo a seguir, Adán não desfez um cruzamento da direita, mas Ricardo Horta falhou o remate.
Se nos locais era a omnipresença do driblador Bruma o grande recurso, o Sporting apostava, não raras vezes, em juntar linhas e convidar as correrias de Gyokeres. O sueco raras vezes é indiferente ao jogo, provocando amarelos, levando amarelos, indo para a frente, pouco amigo de pausas, o que talvez forçe excessiva ânsia de esticar o jogo no nórdico por parte dos seus colegas. Os leões colocariam a bola uma segunda vez no fundo da baliza, mas Pote estava adiantado no tiro de Hjulmanda e o descanso chegou com vantagem mínima no marcador.
Ao descanso, Rúben Amorim tirou Paulinho, o avançado mais em forma das três primeiras jornadas que passou ao lado do jogo, e colocou a condução de bola e finta de Edwards. Na madrugada do segundo tempo, Artur Jorge abdicou de Pizzi e lançou Banza, levando o SC Braga em 4-4-2 para boa parte do que faltava de embate.
Boa parte do segundo tempo passou sem ação junto das balizas. Os minhotos tinham dificuldades para chegar perto de Adán, perdendo-se em lançamentos longos inconsequentes; os lisboetas só por uma vez roçaram o 2-0, mas Matheus negou Gyokeres.
Entretanto, a dança dos bancos continuava, entrando Djaló ou Zalazar de um lado e Catamo, Bragança ou Trincão do outro. Com a noite numa fase de poucas balizas, o 1-1 veio num momento de inspiração.
Aos 78', Alvaro Djaló, o agitador do Sporting de Braga, desenhou um livre de autor na pedreira, um tiro com força e precisão que Adán não conseguiu defender. Empate feito.
Para a reta final, o jogo parecia abrir-se, talvez com ambos os lados procurando a vitória. Mas foi uma promessa vã, que se esfumou nas precipitações de uns e outros e, claro, na entrada da noite na chamada zona futebol português.
Houve expulsões em ambos os bancos, incapazes de fazerem essa proeza que é assistirem ao jogo sem terem mais protagonismo que os verdadeiros protagonistas. Por falar neles, João Moutinho, o segundo mais internacional de sempre, voltou à I Liga mais de 10 anos, debutando pelo SC Braga frente ao seu primeiro Sporting, que estreou Fresneda.
Um SC Braga - Sporting teve, ao longo dos últimos 20 anos, contornos de um assalto a uma posição na sociedade, como se o que estivesse em causa fosse o estatuto que uns queriam atingir e que outros procuravam defender. Essa tensão social pareceu reforçar a tensão que marcou muitos confrontos, dentro e fora do campo, entre minhotos e leões, esta noite igualados em finalizações de classe entre a escassez de remates.
Numa I Liga cheia de sustos para os principais candidatos, o primeiro choque entre eles saldou-se num empate de fim de verão, um raiar de setembro mais áspero que os confortos de agosto. O campeonato vai para a paragem com o Boavista no topo da tabela.