No início de setembro, Cheyenne Parker-Tyus entrou em campo pela primeira vez com um filho a seu cargo. Oito minutos de jogo, oito pontos marcados, vitória da Las Vegas Aces por 31 pontos de diferença. Muito além de cumprir uma tarefa, a veterana de 33 anos, nomeada para o All-Star em 2023, excedeu as expectativas. O parto ocorreu a 1 de julho. O encontro contra as Chicago Sky, que marcou o regresso, realizou-se a 9 de setembro. Sensivelmente dois meses depois de Yoshua chorar pela primeira vez, a mãe voltou ao trabalho.
“Ela estava a pôr leite no biberão ao intervalo”, revelou Becky Hammon, a treinadora que só contou com a jogadora interior nas vésperas dos play-offs, ou seja, a um mês do final da temporada. “É quase um milagre o trabalho que ela fez para jogar.”
Cheyenne Parker-Tyus foi a quinta escolha do Draft de 2015. Selecionada pelas Chicago Sky, passou seis épocas na cidade dos ventos antes de se mudar para as Atlanta Dream. Esta época, assinou por um ano com as Aces e mergulhou numa das melhores hipóteses de conquistar o primeiro título da carreira. Liderada por A’ja Wilson, quatro vezes MVP, a equipa de Las Vegas chegou às meias-finais e tem a série contra as Indiana Fever, às quais falta Caitlin Clark, empatada a um jogo.
“A equipa podia facilmente ter-me trocado”, refletiu Cheyenne Parker-Tyus ao “The Athletic”. Tal não aconteceu e pode estar próxima de participar na primeira final da carreira, mesmo que só tenha participado em dois jogos na fase regular da WNBA, que as Aces fecharam com uma sequência de 16 vitórias consecutivas, segurando o segundo lugar da classificação.
A conversa em que se divulga uma gravidez junto de um recrutador “não é fácil”. Em fevereiro, dois meses antes da época começar, as Aces abordaram Cheyenne e esta expôs a situação. “Eles foram honestos e disseram que mesmo assim queriam contar comigo.” Assim, rubricou um vínculo válido por uma época que, na melhor das hipóteses, termina a 17 de outubro. Embora tenha “apreciado a lealdade e a confiança”, nunca se conseguiu verdadeiramente abster da hipótese de ser descartada para outras paragens. “No fim de contas, isto é um negócio.”
Nesta matéria, o historial das Aces numa liga que vai conseguindo reunir algumas mães não é o mais favorável. De momento, a equipa está envolvida num processo judicial iniciado por Dearica Hamby. A jogadora alega que ter sido trocada para as Los Angeles Sparks, em 2023, foi uma forma de “retaliação” devido à sua gravidez.
NA WNBA, contava o “Los Angeles Times” no início da época, apenas 10% das 156 jogadoras são mães. A liga comprometeu-se com a oferta de melhores condições para as atletas que queiram ter filhos e, desde 2020, garante o pagamento da totalidade do salário durante a gravidez, um apoio de €4.280 em gastos relacionados com creches e o reembolso de até €51.354 em despesas com adoção, barrigas de aluguer, criopreservação de óvulos e tratamentos de fertilidade/infertilidade. Além disso, é obrigatório os pavilhões terem uma zona destinada à amamentação e os quartos das jogadoras com filhos devem ter duas camas.
As reivindicações das protagonistas têm sido audíveis. No jogo All-Star deste ano, as principais caras da WNBA usaram camisolas com o slogan “paguem o que nos devem”. Vem aí, até 31 de outubro, um novo contrato coletivo de trabalho e, em questões de maternidade, mas não só, ninguém está disposto a ceder na luta por melhores condições.