Quando os Dallas Mavericks tomaram a iniciativa de trocar Luka Dončić para os Los Angeles Lakers não tardaram a surgir nos jornais justificações para uma decisão aparentemente ilógica. Ouviram-se vozes por trás do véu do anonimato a criticar a ética de trabalho do esloveno. Ainda que sem efeitos comprovados na degradação dos órgãos produtores de magia, umas cervejas a mais e uns bafos de shisha transtornaram os responsáveis dos texanos.
Nos primeiros tempos a ser novidade na montra de estrelas de Hollywood, Dončić era um ser acabrunhado, efeito do descarte de que foi alvo. A época dos Lakers, eliminados na primeira ronda dos playoffs, terminou sem grande sucesso. No entanto, para ele, a missão tinha acabado de começar.
Desde criança que Luka Dončić passa férias na Croácia, num local não revelado com total exatidão para evitar curiosos. É aí que tem um pavilhão privado onde treina durante a offseason. Apesar de há muito tempo frequentar a zona, só este verão equipou o ginásio com pesos. A “Men's Health” incentivou-o a esculpir o corpo ao longo de três meses de treinos bidiários e uma dieta sem glúten, reduzidas quantidades de açúcar, pelo menos 250g de proteína e um batido de leite de amêndoa por dia.
As mudanças no figurino apareceram na capa da revista numa manobra para arrancar a etiqueta de descuidado. “Sou muito competitivo”, afirmou. “Todos os verões, trabalho diferentes aspetos. Este verão, foi um pouco diferente.” A reportagem não revela o peso perdido, mas o próprio jogador de 26 anos contou ao canal esloveno Pop TV que tinha tirado de cima 14 kg.
Luka Dončić voltou à ação com a seleção e tem dominado o EuroBasket. Antes do início dos quartos de final, onde a Eslovénia vai defrontar a Alemanha, o base lidera a Eslovénia em pontos (34), assistências (7,2), ressaltos (8,3), desarmes de lançamento (0,7) e roubos de bola (3,2) por jogo, tendo já conseguido um triplo-duplo, o quinto da história da competição (16 pontos, 11 assistências, dez ressaltos, frente à Bélgica).
A plataforma 3StepsBasket, que reúne estatísticas mais avançadas do que a FIBA, atribui-lhe 37,9% de usage rate. No EuroBasket, não há ninguém com um valor acima no parâmetro que mede a percentagem das posses de bola ofensivas de uma equipa em que um jogador é utilizado enquanto está em campo. Traduzindo: os encargos de Luka Dončić na seleção estão ao nível de uma esponja. Nos oitavos de final, contra a Itália, marcou 42 pontos. Entre os colegas de equipa, apenas um foi capaz de superar a dezena (Klemen Prepelič, 11).
A Eslovénia tem uma versão quando a sua estrela está presente e outra, bem menos ameaçadora, quando esta se encontra a dar atenção a outros compromissos. Na qualificação para o EuroBasket, Portugal inclusivamente bateu (82-74) a equipa dos balcãs num jogo em que Dončić não participou. “Ele pode matar qualquer um no torneio. Pode marcar, 50, 60… não sei. Isso é o que o torna especial”, disse Bogdan Bogdanović, uma das estrelas da Sérvia, antes do início da prova.
Os Lakers enviaram Jeanie Buss, em representação dos donos do franchise, e Rob Pelinka, diretor-geral, a Katowice para reforçarem a moral de uma das caras da equipa (a outra é LeBron James). “Ele está em grande forma e trabalhou arduamente este verão. Vale a pena atravessar o oceano para ver isso ao vivo", constatou o dirigente que toma decisões relacionadas com as entradas e saídas de jogadores na equipa californiana.
A Eslovénia sagrou-se campeã da Europa em 2017. Dončić tinha apenas 18 anos e mesmo assim foi escolhido para a equipa ideal da edição. Aquela era a seleção de Goran Dragić, considerado MVP. Desta vez, ficaremos com uma ideia do que vale o solilóquio de Luka Magic.