NBA

Kawhi Leonard nunca promoveu empresa que lhe pagava milhões de dólares para isso: como terão os Clippers contornado o teto salarial da NBA

Kawhi Leonard assinou um contrato de patrocínio de 28 milhões de dólares com uma empresa, mas nunca a publicitou. Além disso, ficou com $20 milhões em ações. O vínculo surgiu após ter aceitado um salário não tão alto quanto o que estava apto a receber, alegadamente, para aliviar a folha salarial dos Clippers. Um mês antes, Steve Ballmer, dono maioritário do franchise californiano, investiu $50 milhões (valor semelhante ao recebido pelo jogador) na firma parceira do seis vezes All-Star

Angelina Katsanis

Em muitos aspetos, o funcionamento da NBA (e dos desportos norte-americanos, no geral) convoca para uma luta os modelos competitivos tidos como normais noutras partes do mundo. A existência de tetos salariais é uma maneira de evitar dinastias, ciclos em que o domínio permanente de determinada equipa evapora o entretenimento, sustento máximo da liga. 

Na próxima época, o limite por franchise é de cerca de 155 milhões de dólares. Já em 2024/25, tinha sido de apenas $142 milhões. O valor flutua mediante as receitas obtidas pela NBA. A aparente margem torna-se num exercício de ginástica financeira quando as estrelas começam a assinar contratos astronómicos. 

A rigidez não é total. Pagando taxas de luxo, é possível ir um pouco mais além nos gastos. Ainda assim, a margem não estica ao ponto de se poder montar um cinco inicial apenas com jogadores de topo, tendo estes contratos ajustados à sua preponderância. 

A aquisição de Kawhi Leonard, em 2019, fazia os Los Angeles Clippers darem uma guinada para não embaterem no muro da irrelevância contra o qual tinham esbarrado compulsivamente nas temporadas anteriores. O jogador que tinha acabado de liderar os Toronto Raptors ao título assinava um contrato de $103 milhões. 

Kawhi Leonard a ser apresentado como jogador do Clippers junto de Steve Ballmer e Paul George
Kevork Djansezian

O vínculo tinha a duração de três anos, existindo uma cláusula para que o seis vezes All-Star pudesse abdicar do último, tal como aconteceu. De qualquer modo, Leonard permaneceu nos Clippers assinando uma extensão de quatro anos por $176 milhões. Podem parecer números elevados, mas, caso tivesse esperado mais uma temporada, o extremo estaria apto a receber uns inegáveis $235 milhões. 

Atolado no meio de 3.487 páginas, o jornalista Pablo Torre noticiou que o vencimento pode ter ido além do valor tornado oficial. Segundo explicou no podcast PABLO TORRE FINDS OUT, Kawhi Leonard estaria a receber mais $28 milhões através de um contrato de patrocínio fictício com uma empresa que nunca promoveu, numa manobra dos Clippers para contornarem o teto salarial. 

A NBA já está a investigar a situação. Caso a história se confirme, os castigos podem passar por multas, perda de escolhas de Draft, anulação de contratos e suspensão da equipa.

A empresa em questão chama-se Aspiration e é um “banco verde” que se propõe a ajudar outros negócios a compensarem a pegada ecológica com ações de combate à crise climática. Steve Ballmer, dono de 99% dos Clippers, contribuiu com $50 milhões para a sua fundação um mês antes de Kawhi Leonard assinar a extensão de contrato com os Clippers.

No final de 2021, nasceu a KL2 Aspire. Seria através dessa empresa que Kawhi recebia de forma parcelada os $28 milhões do contrato de suposto patrocínio que assinou em março de 2022. Além disso, o jogador de 34 anos passou a ser detentor de ações da Aspiration no valor de $20 milhões. Com Leonard a receber $48 milhões por fora (valor semelhante ao que Steve Ballmer investiu), os Clippers podiam continuar a satisfazer as exigências financeiras do atleta, mas registando junto da NBA um contrato mais leve que permitiria à equipa californiana fortalecer o plantel. 

Michael Owens

Este ano, a Aspiration declarou falência, sendo que Joseph Sanberg, um dos fundadores, foi acusado de fraude. A KL2 Aspire surgiu como credora, exigindo o pagamento de $7 milhões (a tranche remanescente). No início da união com a KL2 Aspire, a Aspiration já estava a passar por problemas financeiros e a proceder ao despedimento de trabalhadores. No mesmo dia em que 20% dos elementos do staff abandonaram o posto de trabalho, Kawhi Leonard recebeu $1,75 milhões da empresa. Nove dias antes, o dono minoritário dos Clippers, Dennis J. Wong, tinha transferido $2 milhões para a Aspiration.

Os Clippers consideraram “absurda” a ideia de que Steve Ballmer investiu na Aspiration para contornar os limites salariais. O comissário da NBA, Adam Silver, já avisou que tem “poderes muito amplos”, mas que só vai atuar perante “evidências claras.

O ano passado, Kawhi Leonard assinou um novo contrato com os Clippers no valor de $152 milhões por três anos, $70 milhões abaixo do que poderia ter recebido. A ideia seria arranjar espaço na folha salarial para manter Paul George e James Harden. Mesmo com os vários jogadores de renome que passaram por Los Angeles nos últimos anos, o tão desejado anel ainda não apareceu.