Nascera na operária cidade de Detroit e cedo se mudara para Laguna, no lado costeiro da Califórnia, onde, entre um curso de matemática ao qual se dedicou ao invés de aperfeiçoar, academicamente, os dotes musicais, aprendeu a surfar na vertical e bípede ascensão da palavra. Tom Morey remava, punha as palmas das mãos na tábua, punha-se de pé e deslizava à boleia de massas de água salgada.
Aos 15 anos apanhou essa primeira onda e, com 18, era um profícuo praticante de longboard. Nas décadas de 50 e 60, enquanto se entretinha com pautas musicais e concertos de jazz, já se dedicava também a produzir pranchas de surf, conta o perfil que a "Surfer Today" lhe dedicou. Ter trabalhado numa fábrica de aeronaves ajudou a limar-lhe a costela experimentadora com materiais.
Mudar-se-ia para o Havai a meio dos sessentas e organizou o primeiro campeonato de surf da história que atribuiu um prize money ao vencedor. Eram 1.500 dólares e aconteceu em 1965. Nesse ano, fundaria também a Morey Surfboards e fixou-se, de vez, no arquipélago perdido no Pacífico. "É o sítio das baterias [drums] e da herança do surf", justificaria, mais tarde.
A 7 de julho de 1971, Tom Morey saiu a correr da garagem de casa. Finalmente executara o que lhe inundava a cabeça, cortara um material mais mole com dimensões mais pequenas, dos pés à cintura, e atravessou a estrada para chegar à praia e atirar-se ao mar. "Numa prancha de surf, não sentes cada nuance da onda, mas, com a minha criação, conseguia sentir tudo. Pensei: 'Ela vira, é duradoura, pode ser feita de forma barata, é leve, é segura. Meu Deus, isto pode mesmo ser algo muito grande", disse.
Tom Morey inventara o bodyboard. E a segunda pessoa a apanhar uma onda com prancha acabada de inventar foi a sua mulher, então grávida de oito meses.
O primeiro nome técnico que deu à prancha foi SNAKE, acrónimo para "Side Navel Arm Knee and Elbow", qualquer coisa como "Umbigo Braço Joelho e Cotovelo". Comercialmente, seria um imbróglio enraizar o que fosse com este palavreado, por isso, Tom Morey inspirou-se no jazz que lhe ia no coração — boogie era um género de blues que lhe entrava pelos ouvidos. O termo ficou e dele viria a, e o bodyboard.
No final da década, a empresa vendia já produzia de 80 mil pranchas ao ano, mas, em 1977, Morey vendeu-a. A modalidade explodiria nos anos 80 a partir do Havai, com praticantes a atirarem-se a ondas cada vez mais pesadas e descolando delas manobras aéreas, desafiando a gravidade que, à época, o surf não se atrevia a enfrentar. Mike Stewart, natural do Havai, seria o primeiro ícone e campeão dos campeões do bodyboard, recolhendo nove títulos mundiais.
A saúde de Tom Morey começara a falir nos últimos anos, em paralelo com a sua situação financeira. Em 2018, foi organizada uma angariação de fundos para o ajudar a pagar uma cirurgia aos olhos e arranjar dinheiro para necessidades do dia a dia. O americano chegara aos 86 anos em agosto, na mesma volta ao sol em que o bodyboard celebrava meio século de vida. A criação viverá para manter vivo o seu criador.