Jogos Olímpicos de Paris 2024

A Bielorrússia homenageou os medalhados do país que competiram nos Jogos Olímpicos como neutrais. A Ucrânia exige “sanções imediatas”

Numa cerimónia realizada no dia nacional da unidade da Bielorrússia, Alexander Lukashenko condecorou três dos quatro atletas do país que subiram ao pódio em Paris, ainda que o tenham feito sob bandeira neutra. “Tentaram colocar-nos de parte, tirar-nos a bandeira e o hino. Mas o mundo admirou as nossas vitórias”, disse Lukashenko. O ministro do desporto da Ucrânia diz estar em causa “uma violação do princípio da neutralidade” e a confirmação de que “a Rússia e a Bielorrússia utilizam o desporto como ferramentas de guerra híbrida”

Ivan Litvinovich, campeão olímpico de trampolins
Naomi Baker/Getty

Ivan Litvinovich, Viyaleta Bardzilouskaya, Yauheni Zalaty e Yauheni Tsikhantsou têm várias coisas em comum. São todos cidadãos bielorrussos. Competiram todos nos Jogos Olímpicos Paris 2024, onde estiveram como atletas neutrais. Ganharam todos medalhas no verão parisiense.

E foram todos — à exceção de Tsikhantsou — homenageados pelo presidente da Bielorrússia. No dia nacional da unidade da Bielorrússia, um feriado nacional, Alexander Lukashenko homenageou três dos quatro medalhados que nasceram no país e se destacaram nos Jogos Olímpicos, ainda que, oficialmente, competissem sem bandeira, sem hino e sob a genérica classificação de “atletas neutrais”.

Litvinovich, ouro nos trampolins — na prova em que o jovem português Gabriel Albuquerque foi 5.º —, recebeu mesmo a “ordem da terra natal”, a mais importante distinção do país, atribuída ao ginasta por revalidar o título obtido em Tóquio 2020. Bardzilouskaya, prata nos trampolins, e Zalaty, prata no remo, tiveram direito a prémios menores, mas todos foram recebidos por Lukashenko com honras de Estado, numa cerimónia em que também técnicos e dirigentes do desporto do país foram condecorados.

“Conquistámos o sucesso graças ao senhor”, disse Zalaty a Lukashenko, citado pela Belta, a agência de notícias estatal da Bielorrússia.

As notícias da cerimónia não tardaram a chegar a Kiev. Matviy Bidnyi, ministro do desporto ucraniano, exige que o Comité Olímpico Internacional aplique “sanções imediatas” aos atletas. “Esperamos que o COI atue rapidamente em relação a esta cerimónia, que viola o princípio da neutralidade. A Ucrânia apela para que haja um reforço das sanções contra atletas russos e bielorrussos”, disse o ministro à DW News.

Kiev faz referências às normas que foram criadas para que os russos e bielorrussos pudessem estar em Paris 2024. Segundo estas regras, atletas de ambos os países podiam competir se o fizessem sem qualquer referência à bandeira, hino ou nome das respetivas nações.

Além disso, está estipulado que os atletas russos e bielorrussos têm de “abster-se de qualquer atividade ou comunicação associadas” aos países, sendo estas regras válidas “antes, durante ou depois dos Jogos”. A proibição engloba “quaisquer eventos nacionais” relacionados com os Jogos.

O ministro do desporto ucraniano alega que se deu uma “violação do princípio da neutralidade”. “A Rússia e a Bielorrússia utilizam o desporto como ferramentas de guerra híbrida, sendo uma extensão das políticas dos Estados”, diz Bidnyi.

Um cartaz num protesto na Polónia, em 2023, com as caraes de Lukashenko e Putin
NurPhoto

Houve 17 bielorrussos a participar em Paris 2024. Após vencer o ouro nos trampolins, Litvinovich comentou o facto de competir como neutral: “Toda a gente sabe de que país sou. Isto nada muda”.

O presidente da Bielorrússia, Lukashenko, liderou o comité olímpico do país antes de passar o cargo para o seu filho Viktor. Na cerimónia de homenagem, o líder do regime de Minsk enalteceu as conquistas dos atletas do país em Paris, indiferente ao tal véu de neutralidade: “Tentaram colocar-nos de parte, tirar-nos a bandeira e o hino. Mas o mundo admirou as nossas vitórias, o mundo fala dos bielorrussos.”

“Estes Jogos Olímpicos foram mais um importante capítulo na história do desporto nacional. Isto é que é unidade nacional: quando toda a gente está focada nas suas tarefas e objetivos, quando as pessoas unem esforços para tornar a Bielorrússia numa terra próspera, bonita e pacífica”, sublinhou Lukashenko.