Jakob Ingebrigtsen e Josh Kerr são rivais em pista. E fora dela também não gostam muito um do outro. O norueguês chegou a Paris com a dobradinha dos 1.500m e 5.000m na cabeça e disse mesmo, num podcast da European Athletics, que se não estivesse doente ou lesionado, esse feito, raro, seria como “um passeio no parque”.
Nem toda a gente aprecia a arrogância do mais novo do clã Ingebrigtsen. Um deles é Josh Kerr, o escocês que tem sido o seu grande rival nos 1.500m, tendo inclusivamente batido Jakob nos últimos Mundiais, há um ano. Sobre a final desta terça-feira, o britânico avisou que ia ser uma das mais “assanhadas e difíceis” dos 1.500m que o “atletismo viu em muito tempo”.
E Kerr não estava errado. Só que o título não foi nem para o norueguês, nem para o campeão mundial em título. Com uma reta final impressionante, o surpreendente norte-americano Cole Hocker ultrapassou os dois favoritos e ainda bateu o recorde olímpico de Ingebrigtsen, de 2021, quando foi campeão olímpico em Tóquio. Terminou em 3:27.65, ainda bem longe do recorde mundial de Hicham El Guerrouj (3:26.00), que continua estoico a resistir desde 1996.
Tanto o norueguês como Kerr terão sido vítimas da tática suicida de Ingebrigtsen, que desde cedo foi para a frente do comboio, tentando surpreender os rivais. Kerr procurou nunca perder de vista Ingebrigtsen e no final pagaram os dois. Kerr ainda foi prata, com recorde nacional, melhorando o bronze de Tóquio, mas Ingebrigtsen nem sequer no pódio ficou - no final, ainda seria passado por outro norte-americano, Yared Nuguse.
O “passeio pelo parque” transformou-se, assim, numa viagem até às trevas para Ingebrigtsen, que ainda assim ainda terá nova oportunidade nos 5.000m, onde foi campeão mundial há um ano.