É um mito que o objetivo de todos aqueles que conseguem o apuramento para os Jogos Olímpicos seja trincar um naco de metal precioso moldado em formas tendencialmente circulares. Provar, simplesmente, que é possível, também é uma meta a ter em conta. Aliás, só estar presente num lugar que foi conquistado e não apenas atribuído é motivo mais do que suficiente para lá ir picar o ponto independentemente das circunstâncias.
Os Jogos Olímpicos de Paris, que tanto têm tentado precaver as falhas de segurança, permitiram a entrada de um intruso. Um cidadão não registado e desprovido de credencial teve a acesso às zonas mais exclusivas das infraestruturas que albergam a competição. Só se deu por ele quando a mãe o denunciou.
Na esgrima, Nada Hafez derrotou a norte-americana Elizabeth Tartakovsky (15-13) no primeiro duelo que protagonizou na prova de sabre. Acabaria por perder com a sul-coreana Jeon Hayoung (15-7) e acabar eliminada. Mais tarde, soube-se que não estava sozinha.
Nada Hafez revelou que marcou presença na competição enquanto estava grávida de sete meses. “Pareciam ser dois atletas, mas, na verdade, eram três: eu, a minha adversária e o meu pequeno bebé”, partilhou nas redes sociais.
Com aquele dois contra um, a egípcia, medalhada de bronze nos campeonatos africanos e antiga campeã nacional de ginástica, terminou entre as 16 melhores atletas da categoria. “A montanha-russa da gravidez é dura por si só, mas ter que lutar para manter o equilíbrio entre a vida [pessoal] e o desporto não foi menos intenso. No entanto, valeu a pena.”
O caso não é único e há até mulheres que conseguiram medalhas nos Jogos Olímpicos enquanto carregavam os filhos na barriga. Algumas nem sabiam que estavam grávidas. No caso de Anky van Grunsven, neerlandesa que ganhou a medalha de ouro no dressage individual dos Jogos Olímpicos de 2004, preferiu que ninguém soubesse antes da competição que estava grávida de cinco meses para não levantar preocupações.
Não há nenhuma pessoa mais habilitada do que Nada Hafez para avaliar o risco de competir em Paris. Primeiro, só ela sabia a condição física em que se encontrava. Depois, porque, enquanto médica de profissão, não lhe deve faltar consciência do que estava em jogo.
As olimpíadas de Paris foram as terceiras para a número 29 do ranking mundial. No Rio de Janeiro, ficou no 36.º lugar e, em Tóquio, ficou no 29.º posto. Ou seja, em solo gaulês, mesmo numa situação especial, conseguiu o melhor resultado pessoal de sempre.