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Futebol nacional

Um final da Taça (sim, no Jamor) que vai lembrar “uma desgraça autêntica”

Benfica e Sporting vão partilhar, apenas pela 9.ª ocasião na história, a decisão da Taça de Portugal no Estádio Nacional, lugar fatídico devido ao que aconteceu há 29 anos, quando lá se encontraram pela última vez: um very-light disparado de bancada a bancada causou a morte a Rui Mendes, adepto dos leões. A PSP avisou antes que o recinto não oferecia “quaisquer garantias de segurança” e, face a esta memória, a final de 25 de maio será assombrada pelas mesmas preocupações
Luís Filipe Catarino/Expresso

O sol raiava sobre a gola alta a roçar o queixo de Paulo Alves quando entrou em campo, ainda na primeira parte. Iluminava a Parmalat estampada nos mantos vermelhos, também o “SIC Televisão” a interromper as listas verdes e brancas. Dava luz ao logo da TMN que enchia os placards publicitários abeirados ao relvado. E reluzia na testa descoberta de João Pinto, marcador de dois dos três golos do Benfica contra o Sporting, ao correr desenfreado em celebração, a sua melena loira ao vento.

Posta atrás de ambas as balizas e virada para as bancadas, a radiante tarde dava luz também a uma tarja branca, posta a jeito dos olhos dos adeptos lá aglomerados: “Não à violência, não à violência.”

Algures no setor norte, logo aos nove minutos de jogo, ainda Mauro Airez se repercutia em piruetas pelo ar a festejar o seu golo, aterrou o engenho explosivo que viajou uns 200 metros, de um topo ao outro do Estádio do Jamor, para atingir um homem. A final não perduraria como a vencida pelo Benfica ou a perdida pelo Sporting. Ficaria como “a final do very-light”. Adotou o triste cognome da vulgar designação do projétil vindo de uma espécie de arma, de uso destinado a barcos em caso de emergências, disparado por Hugo Inácio, adepto encarnado, e que estoirou no peito de Rui Mendes, aficionado leão, matando-o no local. Desde esse trágico dia que não mais as equipas de Lisboa, acérrimos rivais no campo, se reencontraram na decisão da Taça de Portugal.