O sol raiava sobre a gola alta a roçar o queixo de Paulo Alves quando entrou em campo, ainda na primeira parte. Iluminava a Parmalat estampada nos mantos vermelhos, também o “SIC Televisão” a interromper as listas verdes e brancas. Dava luz ao logo da TMN que enchia os placards publicitários abeirados ao relvado. E reluzia na testa descoberta de João Pinto, marcador de dois dos três golos do Benfica contra o Sporting, ao correr desenfreado em celebração, a sua melena loira ao vento.
Posta atrás de ambas as balizas e virada para as bancadas, a radiante tarde dava luz também a uma tarja branca, posta a jeito dos olhos dos adeptos lá aglomerados: “Não à violência, não à violência.”
Algures no setor norte, logo aos nove minutos de jogo, ainda Mauro Airez se repercutia em piruetas pelo ar a festejar o seu golo, aterrou o engenho explosivo que viajou uns 200 metros, de um topo ao outro do Estádio do Jamor, para atingir um homem. A final não perduraria como a vencida pelo Benfica ou a perdida pelo Sporting. Ficaria como “a final do very-light”. Adotou o triste cognome da vulgar designação do projétil vindo de uma espécie de arma, de uso destinado a barcos em caso de emergências, disparado por Hugo Inácio, adepto encarnado, e que estoirou no peito de Rui Mendes, aficionado leão, matando-o no local. Desde esse trágico dia que não mais as equipas de Lisboa, acérrimos rivais no campo, se reencontraram na decisão da Taça de Portugal.