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Futebol internacional

“Vou dar-nos fora do título para o Botafogo sentir a pressão de ser líder”: a temporada do Palmeiras, pelas palavras dos adjuntos de Abel

João Martins e Vítor Castanheira, dois dos fieis adjuntos de Abel Ferreira no Palmeiras, contam à Tribuna Expresso histórias do bicampeonato, refletem sobre o lado mental do jogo, descrevem como viram o líder da equipa técnica nos momentos delicados, revelam como viram o surgimento de Endrick e apontam o lugar da equipa técnica na história do futebol brasileiro
Cesar Greco/Palmeiras

Que Brasileirão foi este?

João Martins:

Foi engraçado porque quando a distância abriu muito, o Abel começou a passar o discurso: “Vou dar-nos como fora do título, só para tentar que o Botafogo comece a sentir mais pressão de ser líder. Sempre que me perguntarem, eu vou dizer que o Botafogo é o grande candidato, que o Botafogo tem tudo para ganhar, que o Botafogo só depende dele”. Porque sabíamos bem o que nos custou, no ano passado, sermos consistentes. É preciso saber estar na frente, lidar com a pressão, saber lidar com a visibilidade, com essas coisas todas de quem ganha. Sabíamos que era um clube que não ganha há muitos anos. A verdade é que estava com tudo para ganhar e com grande, grande, grande distância. O Abel disse isto, se calhar, há três ou quatro meses. O mais engraçado é que os jogadores partilhavam muito isso: “João, vais ver que eles vão começar a escorregar, vão começar a perder pontos”.

Todos os anos usamos uma história para toda a competição. A história deste ano era o Monopólio. A imagem do nosso meeting antes do jogo era o Monopólio, cada casinha é cada jogo. O Abel começava sempre a dizer “ainda vai passar muita água nesta ponte”, que era a reta do Monopólio. O mais engraçado é que no final da reta, no final do retângulo há a curva, e ele dizia: “A ver se eles não se despistam nesta curva” [era o Botafogo-Palmeiras, que ficaria 3-4 depois de ter estado 3-0 ao intervalo]. O mais engraçado é que foi nessa curva que começámos a ficar a dois pontos, três pontos. Quando passámos para a frente, ele disse: “Vamos tirar o retrovisor do nosso carro, só interessa nós contra nós. Se formos mais rápidos do que quem vier atrás não nos vão apanhar”. Ele dava sempre o exemplo do Verstappen, que concorre sempre contra ele próprio. Ele gosta muito de desportos motorizados porque o pai é mecânico. Esqueçam quem vem atrás, é nós contra nós.

Vítor Castanheira:

É o Brasileirão [risos]. É um campeonato extremamente competitivo, difícil, todas as jornadas estão suscetíveis de acontecerem surpresas. A verdade é que o Botafogo, com uma primeira volta onde bateu todos os recordes da era dos pontos corridos, tinha tudo muito bem encaminhado. E nós assumimo-lo publicamente, mas como o campeonato é extremamente competitivo e eles entraram na fase negativa e não conseguiram sair dela… Nós, com a nossa dedicação e crença, sempre no acreditar, sabendo que era difícil, jogo a jogo fomos encurtando, encurtando, encurtando, até que nesta reta final fomos para a posição que desejávamos.

Vale pela competitividade, pela quantidade de equipas fortes que o campeonato tem, com enormíssimos jogadores. É sempre uma incógnita, essas equipas podem chegar ao final do ano e ter sucesso. É desgastante, é muito, muito. A densidade de jogos é muito grande, com intervalos muito curtos. O Abel já fez referência a isso. Nós terminamos um jogo, os jogadores estão a fazer recuperação e nós já estamos a preparar o próximo jogo que é dois dias depois, que passa por ver jogadores disponíveis e estratégias de jogo. Isto, ao longo de uma época, é muito desgastante, mais as viagens. A envolvência que tem o futebol brasileiro… isto é o país do futebol, qualquer estádio mete milhares de pessoas, a pressão é constante, têm torcidas enormes. Se não houver equilíbrio e não se souber lidar com estas situações, pode ser perigoso. Pode ser perigoso.