Isto foi, em linguagem científica do futebol, “uma daquelas noites”. Uma daquelas noites, porque o jogo até esteve para não se realizar, e uma daquelas noites para o FC Porto, em ataque permanente, a tentar desbravar a férrea organização defensiva montada por Luís Freire, que no Dragão teve a felicidade que não havia tido na Luz há umas semanas, levando para Vila do Conde um ponto sofrido.
No jogo em que o FC Porto teve mais ações na área adversária neste campeonato, diz a GoalPoint, houve ressaltos, carambolas, desvios, golos anulados, penáltis revertidos, mas não houve golos. No futebol não se ganham ou perdem campeonatos por azar, mas há jogos em que a sorte não aparece. E este foi um daqueles jogos em que o FC Porto talvez se possa queixar da falta de sorte.
A jogar com o onze que lhe tem dado garantias de resultados e boas exibições nas últimas semanas, Sérgio Conceição viu a equipa entrar forte frente a um Rio Ave com um mini-facelift, com vários reforços no onze, agora que a equipa pode, novamente, inscrever - mas talvez Guga, que saiu valha por muitos. Logo nos primeiros minutos, a equipa da casa teve um penálti marcado e depois revertido, aos 3’, e um golo anulado a Galeno aos 10’, num lance coletivo tão bem engendrado, entre Nico, Francisco Conceição e novamente Nico, antes da recarga em fora de jogo de Galeno (por quatro centímetros), que o golo parecia questão de tempo.
Assim não foi. Aos 14’, o Rio Ave teve a sua única flagrante oportunidade de golo, por João Teixeira e a partir daí começou o festival de desperdício, do qual Evanilson foi rei. Aos 19’ rematou ao lado após cruzamento atrasado de Conceição e aos 27’ permitiu uma enorme mancha de Jhonatan, antes do remate à trave de Chico, num lance paradigmático do falhanço que ia acontecendo, mas que até seria parado pelo árbitro, por uma falta anterior.
À meia-hora, após um desequilíbrio de Pepê pelo corredor central, um corte de Aderllan travou mais uma vez Evanilson, que ainda antes do intervalo colocou a bola na baliza de Jhonatan, mas havia fora de jogo de Wendell, que antes disso havia trabalhado bem em tabelas com Galeno.
O FC Porto jogava bem, acossava a baliza do Rio Ave pelo miolo, pelo exterior, com Francisco Conceição em destaque, naqueles dribles diabólicos, sempre ligado à corrente.
Após o intervalo, o jogo exacerbou a tendência. O FC Porto com cada vez mais bola, cada vez mais cruzamentos, ataques, cantos (foram 23 em todo o jogo) mas o desespero terá tirado discernimento aos homens de Sérgio Conceição. Era um daqueles dias. Cheirava a um daqueles dias. E quando isso entra dentro da cabeça dos jogadores é difícil voltar a baixar-lhes a tensão.
Um lance aos 49’, novamente com Evanilson ao barulho, será mais um fresco de um jogo em que a bola tocou em todo o lado, menos nas redes das balizas: houve ressaltos, quedas, desvios, bolas legais em braços, pernas e no fim um canto, mais um de tantos cantos, em que o FC Porto nunca conseguiu criar particular perigo, muito graças à abordagem defensiva do Rio Ave nos lances de bola parada, muito atentos a Pepe, por exemplo.
Durante a 2.ª parte, não faltaram os remates, as situações na área. O FC Porto pressionava, não permitiu praticamente que o Rio Ave tivesse bola e as poucas hipóteses de contra-ataque da equipa de Vila do Conde foram rapidamente resolvidas pela defesa portista. A bola rondou, sempre, as imediações de Jhonatan, seguríssimo. Mas não houve verdadeiras e flagrantes oportunidades de golo. As entradas de Toni Martínez e Ivan Jaime, aos 74, colocando o FC Porto a jogar num 4-4-2 mais assumido, pareceram na altura tardias, mas a verdade é que nem os dois espanhóis trouxeram frescura a um ataque que, com o passar dos minutos, se limitou a lançar a bola para a área.
Do Rio Ave há que salientar a agressividade, a forma como nunca desarmou na sua organização defensiva, algumas exibições individuais - Costinha, por exemplo, que fez uma catrefada de desarmes. Foi uma equipa solidária, que soube ajustar a estratégia. Merecia mais na Luz, mas fez por merecer qualquer coisa no Dragão.
E com isto terminou uma série de excelentes vitórias do FC Porto, que pode acabar esta jornada a 6 pontos do líder, caso o Benfica ganhe. E ainda falta o Sporting, impedido este sábado de jogar em Famalicão.