A face de Filippo Gana resumia o que se estava a passar na sétima etapa do Giro d'Italia, no contra-relógio de 40,6 quilómetros entre Foligno e Perugia. Aliás, talvez a cara do italiano da INEOS descrevesse, mesmo, o estado de espírito da concorrência de Tadej Pogacar na primeira grande volta da temporada: uma conformada aceitação da superioridade do esloveno, um olhar passivo perante a ação alheia, o atestar de que a realidade é assim e não há nada nem ninguém que a possa alterar.
No último ponto de cronometragem antes da meta, já nos derradeiros quilómetros da luta contra o tempo, Gana, especialista neste esforço solitário, era 47 segundos mais rápido do que o grande papão deste Giro. Parecia que Pogacar, de rosa desde o segundo dia, não iria chegar à segunda vitória de etapa.
Mas, nesta corsa rosa, Tadej é como a gravidade. Inevitável. Não vale a pena combatê-la, somente resta aceitar. Fazer a cara de Gana, encolher os ombros, lutar por ser o melhor dos mortais.
Numa subida final incrível, Pogacariana, o líder da UAE-Emirates, o predador sempre com tufos de cabelo a saírem pelos buracos do capacete, acelerou, imprimiu um ritmo que só existe naquelas pernas de fenómeno. Os 47 segundos de desvantagem foram pelos ares, com Tadej a triunfar com 17 segundos de margem para Ganna.
Vitoriado pelos adeptos italianos, que têm o privilégio de ver Pogacar na sua maior corrida pela primeira vez, Tadej selou a 72.ª vitória da carreira. Só em 2024 já são nove.
Atrás de Pogacar ficaram, além de Ganna, outros dois INEOS. Magnus Sheffield gastou mais 49 segundos que o líder e Thymen Arensman foi um minuto mais lento.
A classificação geral mostra já o esperado abismo entre o melhor e os outros, a expressão em números da realidade que a face de Ganna demonstra. Daniel Felipe Martínez, o colombiano da BORA que conquistou a Volta ao Algarve em 2023, está a 2,36 minutos de Pogacar, Geraint Thomas, britânico da INEOS que foi segundo no Giro anterior, está a 2,46 segundos.
No sábado, os 152 quilómetros entre Spoleto e Prati di Tivo trazem dificuldades de montanha. Irá Pogacar continuar a acentuar a sua superioridade ou, como aconselhou Robbie McEwen, em entrevista à Tribuna Expresso, vai começar a guardar energias tendo em vista o Tour?