Ciclismo

Mathieu van der Poel foi o homem-monumento no dia em que o miúdo António Morgado brilhou na Volta à Flandres

Campeão do mundo era o favorito no segundo monumento do ano e não falhou, vencendo pela terceira vez, isolado e sem quem lhe fizesse frente. O português António Morgado (UAE Emirates) foi 5.º, confirmando a qualidade que lhe conhecida nas provas de um dia. Aos 20 anos, o ciclista das Caldas da Rainha fez história na Bélgica

Dario Belingheri

A ausência de Wout van Aert, após queda feia na Através da Flandres a meio da semana, veio dar um cunho de inevitabilidade a um favoritismo que já era declarado para a Volta a Flandres, um dos Monumentos do ciclismo, uma das mais míticas Clássicas do calendário do ciclismo.

Mathieu van der Poel (Alpercin-Deceuninck), um dos reis das provas de um dia, tentava nas estradas da Bélgica juntar-se ao grupo de recordistas da corrida, com três triunfos, o fê-lo com a autoridade que se esperava. Numa prova marcada pelo mau tempo e pelas inusitadas imagens de ciclistas a levaram à mão as suas bicicletas pelo empinado empedrado, escorregadio por causa da chuva, o neerlandês cansou-se de ter companhia a 45 quilómetros da meta, na descida do Koppenberg, empreendendo uma escapada a solo que só terminou na meta, em Oudenaarde, com o campeão do mundo a erguer a sua bicicleta no ar, audácia que só se permite a quem é verdadeiramente dominador.

O neerlandês, que se dá tão bem na estrada como no cyclocrosse ou nas bicicletas de montanha, junta-se a outros tricampeões na Flandres, num grupo com gente ilustre como Tom Boonen ou Fabian Cancellara, depois das vitórias em 2020 e 2023. É a sua 5.ª vitória em Monumentos, depois de em 2023 ter triunfado na Milan-San Remo e Paris-Roubaix.

“A minha época já é bem-sucedida depois de ganhar a Volta à Flandres”, sublinhou o ciclista no final, ainda de cara carregada de lama e com os pulmões a clamarem por ar, ele que revelou ter sofrido muito nos quilómetros finais. Mas ganhar na Flandres “de camisola de arco-íris vestida” é um sonho de criança que o ciclista de 29 anos já cumpriu.

E bater o recorde parece algo perfeitamente ao alcance do neto do mítico Raymond Poulidor, que não quis falar para já na defesa do título no Paris-Roubaix que se realiza já na próxima semana.

Português António Morgado foi 6.º na meta
Dario Belingheri

Surpresa (ou então não) também para Portugal, que viu o jovem António Morgado chegar no grupo que perseguia Van der Poel, a 1,02 minutos do neerlandês. O ciclista da UAE Emirates, de apenas 20 anos, foi 5.º na meta, na sua estreia em Monumentos, um resultado histórico, em terrenos onde o nosso país não está habituado à glória.

Morgado, filho das Caldas da Rainha tal como João Almeida, foi um dos animadores da prova e confirma com este desempenho as expectativas que recaem sobre ele e as suas qualidades em corridas de um dia, depois de já se ter sagrado vice-campeão mundial tanto em juniores como em sub-23. O português é ainda o terceiro ciclista mais jovem desde 1945 a terminar um Monumento entre os dez primeiros.

Um top-10 no seu primeiro ano como profissional e numa prova tão dura como a Volta a Flandres, para mais com condições meteorológicas adversas, torna o feito ainda mais impressionante.