Ciclismo

Vuelta. No dia em que a Jumbo decidiu proteger Kuss, Remco Evenepoel continuou o seu espetáculo a solo

Na 18.ª etapa da corrida, a última de alta montanha, não houve ataques entre o trio do pódio da equipa neerlandesa, com Vingegaard a trabalhar para Kuss e até a deixar que o norte-americano lhe ganhasse alguns segundos, aproximando-se muito do triunfo final. Evenepoel, em mais uma longa fuga, conseguiu o hat-trick em tiradas
MIGUEL RIOPA/Getty

Ataques à frente, espera atrás. Entre Remco Evenepoel, em fuga durante longos quilómetros, e o comboio da geral distavam longos minutos mas, sobretudo, a sensação de que o belga ia a todo o gás, um predador rumo à vitória, e o trio da Jumbo ia cauteloso, ditando tréguas.

Depois das movimentações dos últimos dias, das mexidas de Roglic e Vingegaard, do minguar da vantagem de Kuss e das polémicas, a grande dominadora da Vuelta — e das grandes voltas na atualidade — mandou fazer stop. Queriam união? Aqui a têm.

No Puerto de la Cruz de Linares, com 8,3 quilómetros a 8,5% de inclinação média, Jonas rebocou o grupo dos favoritos subida acima, com Roglic quieto na sua roda e Kuss, de vermelho, protegido e seguro. As únicas movimentações foram de Ayuso e Landa, facilmente controladas pelos homens de amarelo. Na última grande etapa de montanha, Kuss ficou muito perto do lugar mais alto do pódio de Madrid.

Na paisagem verdejante das Astúrias, com subidas íngremes e descidas com curvas que apelavam à cautela, Remco Evenepoel foi fiel a si mesmo, sem esperas nem conservadorismo. Foi para a fuga, na frente da qual trabalhou durante longos quilómetros e a qual desfez quando decidiu imprimir um ritmo mais forte.

O belga vinha para a Vuelta à procura do segundo triunfo seguido na geral. Começou bem, vitorioso, parecendo a única real alternativa ao domínio da Jumbo. No entanto, na etapa do Tourmalet, no mesmo dia em que João Almeida disse adeus ao pódio, Evenepoel despediu-se da geral.

A ordem unida da Jumbo, com Vingegaard e Roglic à frente de Kuss
Tim de Waele/Getty

A partir daí, Remco foi mais Remco que nunca. Sempre ao ataque, sempre em fugas, Evenepoel transformou o que restava da Vuelta numa exibição a solo, uma reivindicação do seu talento.

Com tamanho talento e audácia, transformou um dia péssimo numa porta aberta para mais uma prestação de êxito. Hat-trick de etapas, triunfo na montanha, a demonstração de que cumpre uma máxima dos campeões: o mais importa não é cair ou não cair, mas sim como se levantará da queda.

“Tentar segui-lo é como seguir uma scooter”, disse Damiano Caruso, o segundo da tirada, a uns incríveis 4,44 minutos de Remco. Diferenças de outros tempos para um jovem que corre como se fazia antigamente.

A quase 10 minutos do belga chegaram os homens da geral. Kuss foi ajudado por Vingegaard durante a subida e no final dela: o dinamarquês tirou o pé nos metros finais, permitindo que o tantas vezes gregário ganhasse nove segundos. Mais atrás, João Almeida chegou junto de quem está imediatamente acima e atrás dele na geral, provavelmente selando o 9.º lugar final.

À falta de apenas três tiradas, só uma, a 20.ª, acarreta algumas dificuldades, com um percurso sinuoso, com muito sobe e desce, mas sem alta montanha. Vingagaard já deu a entender que não haverá ataques da Jumbo. Depois de dias de dúvida, a consagração de Sepp Kuss, o gregário feito líder, está muito próxima.

A classificação geral:

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