Nas estradas polacas, João Almeida pedalava nos meandros de centenas de outros ciclistas e, também, contra ele próprio, que retornava a lugares de onde saíra bem feliz, há dois anos, quando levou a licra amarela para casa da mesma prova. O regresso do português à Volta da Polónia era descaradamente para repetir esse feito e, na véspera, já ficara a milésimos de segundo de entrar na última etapa todo ele amarelado - ao ser 2.º no contrarrelógio da penúltima tirada, igualara o tempo do líder da prova. Foi por um triz.
E haveria sempre de ser por outro que tudo se decidiria nos 166,6 quilómetros finais sem montanhas de jeito para se escalar, numa etapa mais virada para ter fugas ou uma chegada ao sprint em Cracóvia. Teve ambas. Os fugitivos, contudo, seriam eventualmente engolidos pela massa do pelotão e a pedalar que nem loucos se acabaria esta Volta a Polónia, não sem antes algumas arrelias.
A pouquíssimos quilómetros da meta, quando já todos circularam no circuito final da prova ao qual se tinham de dar uma quantas voltas, houve um acidente que envolveu dezenas de ciclistas, vários da UAE Emirates, a equipa de João Almeida. O português safou-se dessa arrelia, mas de nada lhe serviram os dois segundos de bonificação no sprint intermédio da etapa porque, mesmo à sua frente, esgueirou-se Matej Mohoric, o esloveno da Bahrain Victorious vestido de amarelo.
Esse segundo a mais ‘roubado’ por ele foi suficiente para chegar a sorrir à meta engolida pela luta dos sprinters e das gentes que vivem para acelerarem com tudo nos metros finais. A vitória na Volta à Polónia ficou com Mohoric e o segundo lugar foi para o ciclista português, que aos 24 anos já foi campeão e vice-campeão de uma volta ao mesmo país.
Na acumulando na mochila de João Almeida, o ciclista de A-dos-Francos, perto das Caldas da Rainha, há já um par de sorridentes conquistas desde que entrou na vida graúda do ProTour: em 2021, acabou a Volta ao Luxemburgo na dianteira do pelotão ao fim de cinco etapas, feito replicado no somatório de sete tiradas na Polónia. Eram competições longe da luz incandescente das Grandes Voltas da Europa ou das corridas clássicas, se bem que sintomas da valia do português. Este ano, João Almeida acabou o Giro d’Itália no terceiro lugar final, após ser 4.º na edição de 2020 em que contou 15 dias a vestir-se de rosa, com a maglia que identifica o líder da classificação.