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A casa às costas

“Quando cheguei ao United, o Ronaldo deu-me moral, começou logo: ‘Está aí o angolano, vem para cá, vem para cá’. Ia com ele para os treinos”

Manucho Gonçalves, 41 anos, protagonizou a primeira transferência de um jogador angolano, a jogar no Girabola, diretamente para o Manchester United. Nesta entrevista, além de revelar como foi entrar num balneário cheio de estrelas e como logo se enturmou com Cristiano Ronaldo e Nani, explica o porquê do empréstimo ao Panathinaikos, fala do regresso a Inglaterra e de como foi difícil a adaptação à seleção de Angola, pela qual disputou quatro edições da CAN. Entre outros pormenores, conta a sua versão da saída dos red devils
Mike Egerton - EMPICS

Nasceu em Angola. O que faziam os seus pais profissionalmente?
A minha mãe trabalhava na agricultura. O meu pai era tesoureiro da TAAG.

Tem irmãos?
Somos oito irmãos. Seis raparigas e dois rapazes.

Viveu em Angola até que idade?
Eu vivi em Luanda até aos 22 anos.

Qual é a sua primeira memória de infância?
É de uma bola que o meu pai ofereceu-me. Uma bola e umas chuteiras. O meu pai também foi jogador de futebol, jogava como extremo esquerdo, era esquerdino também. Jogou no ASA.

Lembra-se de o ver jogar?
Já não cheguei a vê-lo jogar oficialmente. Mas quando ele tirava umas peladinhas com a velha guarda conseguia vê-lo jogar e via a qualidade que ele tinha. Era bom jogador. As pessoas já me tinham dito que ele tinha um remate fantástico, quando chutava o guarda-redes nem via a bola. Ele esteve para ir para o Sporting, só que os irmãos mais velhos não o deixaram. Acho que fizeram bem, senão muito provavelmente eu não tinha nascido [risos].

Dos oito irmãos, em que lugar veio?
Sou o quinto.

Mais algum irmão jogou ou joga futebol?
Na verdade, todos jogaram, as minhas irmãs também. O meu pai teve uma escola de futebol. Eu jogava na rua, o meu pai estava a trabalhar e um vizinho ficava sempre a apreciar os nossos jogos e um dia foi dizer-lhe: “Gonçalves, tu já viste o teu filho a jogar?” O meu pai nunca tinha visto e um dia faltou ao trabalho para poder assistir aos jogos que fazíamos na rua. Ele viu que havia muito talento e quis fazer uma escola. Na altura éramos umas 50/60 crianças que ele formou. Tinha futebol feminino e masculino. A escola chamava-se ‘Flaminguinhos Futebol Clube’, era muito conhecida em Angola.

O seu pai era admirador do Flamengo?
Sim, era o clube pelo qual ele torcia. Gostava muito do futebol brasileiro, tanto que quando começou a dar os treinos, baseava-se muito no futebol brasileiros, os passes, os toques…

A casa às costas