Cheia de tabelas, triangulações no meio-campo dos outros, jogadas de pé para pé e privilégio pelo passe curto, a seleção de sub-19 encantou, de jogo em jogo, neste Europeu. Mesmo com a colheita de rapazolas futebolistas emagrecida pela costela forreta dos clubes - Dário Essugo e João Neves, por exemplo, um do Sporting e o outro do Benfica, não foram libertados por quem os emprega - a equipa de Joaquim Milheiro apetrechou os nomes que tem com um estilo atacante e de posse, dos que entortam os olhos dos adversários ao tentá-los meter a perseguir sombras. Chegados à final, esperava-se uma continuação desse estilo.
Os italianos, porém, nada devem à aprendizagem e usaram a goleada (5-1) sofrida na fase de grupos e o que viram Portugal aplicar aos restantes adversários para atentarem às lições. Mal a partida teve ordem de soltura, a Itália pressionou com três jogadores qualquer saída de bola da área portuguesa com ‘agressividade’ em qualquer tentativa de, mesmo assim, a seleção nacional sair a jogar de forma curta. E cedo impôs dificuldades que tarde os portugueses arranjaram maneira de tornear.
Portugal não tinha bola no capitão Hugo Félix, inventor de tabelas e ideias, nem no avançado Rodrigo Ribeiro, o dono dos pés técnicos que por todo o lado surgem em apoio para darem vazão a tabelas. Aos 15’, a pressão alta e constante de Itália incomodava e colocava a bola mais em quem vestia de azul, que abusava das iniciativas do pequenote Luis Hasa, perito em atrair atenções sem perder a bola, para descobrir espaços para, depois, se procurar a estampa de Francesco Esposito com cruzamentos - por duas vezes, o grandalhão de área rematou no alto. Essa insistência resultou com Michael Kayode, o extremo que atacou as costas do lateral Martim Marques para cabecear o 1-0.
Só sofrido o golo é que a seleção se libertou, com extremos a irem ao centro para receberem passes longos do guarda-redes ou centrais que pulassem a cerca da pressão italiana. Gonçalo Esteves já se projetava no ataque, Hugo Félix já ia formar triângulos de passe por todo o lado, Rodrigo Ribeiro já tocava em jogadas na área. Mais com intenções do que ações perigosas, Portugal perdia ao intervalo mostrando só correrias e remates bloqueados de Carlos Borges. O canhoto tentava e forçava, via-se que estava frenético a querer carregar a reação da seleção.
A pegada dos portugueses no jogo cresceu na segunda parte, alimentados pela eletricidade a que Joaquim Milheiro estava ligado, sempre a esbracejar e incentivar diante do banco de suplentes. A entrada de Diogo Priostes para o meio-campo deu um passador com cadência vertical à seleção e o acentuar de uma intenção fez o resto: Portugal quis, de vez, ser mandão com a bola, beneficiando do recuar das linhas de pressão de Itália para envolver mais gente no jogo pelo centro do campo, atraindo lá adversários para depois soltar as corridas de Carlos Borges.
O outro pequenote italiano, Samuele Vignato, ainda forçou uma parada a Gonçalo Ribeiro após ultrapassar Nuno Félix e correr área dentro, contudo, a energia dele e de Hasa esgotar-se-ia, arrastando a equipa nessa perda de gás. Os italianos, com os minutos, resumiram-se a bombear tentativas longas para Esposito lá na frente quando recuperava a bola cada vez mais atrás. Com bem mais perigo, um remate de Gustavo Sá por pouco não dava golo ao ser desviado por um adversário rumo à própria baliza e Martim Fernandes, entrado ao intervalo, quase imitava o golo italiano pouco depois.
O problema: esse remate aconteceu aos 61’. E até aos descontos não mais se viu a seleção nacional a ameaçar, esfumando-se a muita bola que tinha fora do bloco arregimentado pela Itália junto à própria área por em nada resultar nos últimos 30 metros do ataque. Muito tentavam os jogadores portugueses, cada vez com mais pressa à medida que o relógio engordava. Faltou um fio de jogo que associasse o talento individual no qual Portugal confiava, parecendo a bola, às tantas, um instrumento para cada um tentar, à vez, inventar algo no ataque.
Foram dos encolhidos italianos os remates mais ameaçadores, primeiro Vignato a desmarcar-se na área para receber um passe picado, depois Lipani a rematar à entrada da área no desfecho da única jogada de combinação montada pela equipa junto à baliza portuguesa. O resto do tempo resumiu-se ao parco discernimento da seleção nacional a bater de frente, com estrondo, na acérrima vontade que a Itália colocava nas disputas de bola e duelos (por vezes, com faltas durinhas). Só nos descontos, caída do céu de uma bola bombeada lá para a frente, Herculano Nabian pontapeou de primeira uma tentativa que rasou o poste direito.
Os últimos apitos viriam logo a seguir. À quarta final de um Europeu sub-19, a seleção perdeu de novo, não repetindo a conquista de 2018 com mais uma geração talentosa e boa de bola. Só na final, no jogo em que mais se pedia, não apareceu o golpe de asa criativo, rebelde e solto no jogo ofensivo português.