No discurso, o simpático e afável Roberto Martínez é avesso a fechar portas a quem seja, nunca usando o seu portunhol cada vez mais português para barrar as hipóteses de um jogador não convocado poder eventualmente vir a sê-lo. Nos atos seguidos às palavras, contudo, o modus operandi do selecionador nacional desde que tomou conta do cargo, há 14 meses, indicou um pouco o contrário: claro fã de fomentar um clima de clube, o treinador estimou chamar sempre os mesmos futebolistas e privilegiar uma linha constante de presenças de modo a fintar a falta de tempo para treinar com o possível fomento das relações na equipa via habituação.

Fechada a presença no Europeu do próximo verão com estilo (10 vitórias na dezena de jogos de qualificação), a convocatória de março seria a derradeira oportunidade para o técnico vestir a bata e abraçar algumas experiências de laboratório. Uns zunzuns já tinham sido ouvidos de que Roberto Martínez iria chamar mais jogadores do que os 23 ou 24 do costume, com primazia para os nomes que foram aparecendo nas sete listas de pré-convocados desde janeiro de 2023, mas que não pularam para o lote definitivo de escolhidos por ele. Era expectável que os encontros frente Suécia (21 de março, em Guimarães) e Eslovénia (26, em Ljubljana), além dos treinos que vão caber no respetivo estágio - com 10 dias, mais gordo do que o costume -, servissem de posto de observação desses jogadores. E assim será.

As lesões de Diogo Jota (Liverpool) e Ricardo Horta (SC Braga), habituais na era Martínez, vagavam ainda mais espaço para experiências. Às suas maleitas juntou-se a de Pedro Gonçalves, aparecida na véspera, em Bérgamo, no momento em que marcou um golo à Atalanta pelo Sporting e inundou-se de lágrimas, talvez já sabendo de que iria ser um dos felizardos com uma chamada de Roberto Martínez. A desgraça de uns é a fortuna de outros e esta convocatória acabou mesmo por se alargar, com os esperados nomes menos vistos - Jota Silva, o corredor do Vitória que se farta de atacar a profundidade entre eles, além de Francisco Conceição, o canhoto das fintas que é filho do treinador do FC Porto, são os destaques porque nunca tinham sido escolhidos para a seleção nacional.