Portugal

Cristiano Ronaldo e o “circo” do futebol português: “Não me surpreende, sinceramente. A Liga Saudita é melhor”

O capitão da seleção portuguesa, de 38 anos e meio, uma expressão que gostou de ouvir na sala onde deu a conferência de imprensa, falou aos jornalistas e abordou temas como o golo 850.º, a rivalidade com Lionel Messi, as convocatórias de João Félix e João Cancelo e ainda o estado a que chegou o futebol português: “Está a haver mesmo muita polémica, e isso é mau. As pessoas minimamente inteligentes sabem disso, mas cada um puxa a brasa à sua sardinha.”

Will Palmer/Allstar

Expresso

Vitórias que significam quase apuramento

“Queremos muito ganhar este dois jogos, sabemos que se ganharmos estamos praticamente apurados. São dois bons jogos, na minha perspetiva. É um jogo difícil, principalmente este contra a Eslováquia. Os jogos fora normalmente são mais complicados. Mas a equipa está bem, ainda não perdemos nenhum jogo, a equipa está confiante. O que vamos tentar fazer é ganhar o jogo, depois aqui em casa ganhar ao Luxemburgo. Se ganharmos, estamos praticamente qualificados.”

850 golos na carreira. Que objetivos ainda tem?

“É um marco histórico. Foi um orgulho alcançar esses números, nunca pensei que os poderia alcançar. Mas quero mais. Enquanto jogar, a fasquia tem de ser sempre cá em cima, pensar grande. Quero agradecer a todos os que me ajudaram, aos clubes onde passei, a seleção, mas quero mais.”

Rivalidade com Messi (jornalista disse que parece que quem gosta de Cristiano odeia Messi e que quem gosta de Messi odeia Cristiano)

“Não vejo as coisas assim. A rivalidade já foi, mas era uma rivalidade boa, que os espectadores gostavam bastante. Mas não é “quem gosta do Cristiano, tem de odiar o Messi” ou vice-versa. São os dois bons, ou muito bons, que mudaram a equipa do futebol e que continuam a mudar. Somos respeitados em todo o mundo, isso é o mais importante. Ele está a fazer o seu caminho, como eu faço o meu, independemente de jogarmos fora da Europa. Ele tem estado bem, pelo que tenho visto. Eu também tenho feito as coisas bem, e é continuar. O legado continua. Mas a rivalidade… não vejo as coisas assim. Já disse algumas vezes: partilhámos muitas vezes o palco, 15 anos, acabamos por ser, não digo amigos, porque nunca jantei com ele, mas somos colegas de profissão, respeitamo-nos mutuamente.”

Arábia Saudita e as vozes que criticam os que se mudam para lá

“É normal criticarem, qual é a liga que não é criticada? Onde não há problemas? Controvérsia? Arábia, Portugal. Vês agora as recentes situações que estão a acontecer. Espanha. É normal. Eu sabia e disse-o há seis meses, pensavam que era maluquinho, mas afinal o maluquinho já não é tão maluquinho, acaba por ser normal jogar na liga saudita. Estando lá há oito meses, sabia que isto ia acontecer. É um privilégio mudar uma cultura, não só de um país, como a nível futebolístico, e ter grandes craques a ir para lá, deixa-me extremamente orgulhoso. Porque não lhes dar uma oportunidade se têm potencial, valor, apostam nos grandes jogadores e querem transformar a liga numa das mais competitivas do mundo? Fui o pioneiro disso tudo e sinto um orgulho por isso tudo, o que mais quero é que a liga saudita continue a evoluir, não só agora mas nos próximos anos, para que seja uma liga top.”

Vídeo da estreia pela seleção em 2003 vs. seleção de 2023

“Não é melhor nem pior, é uma fase diferente. Quando há uma mudança, respira-se de uma maneira diferente, não deixando de lado o trabalho que foi feito anteriormente. Nos últimos anos e desde 2003, 2004, houve momentos muito bons da seleção, fases finais, Europeus, Mundiais, Liga das Nações, são fases normais que as seleções passam. Este momento tem sido muito bom, na minha opinião. Nos treinos, mesmo os próprios jogadores já afirmaram, respira-se de maneira diferente, temos ganhado todos os jogos até agora. Estamos felizes, eu estou feliz, as coisas têm corrido bem, tenho feito golos. Quero continuar, sinto-me bem, sinto-me útil, mas obviamente que a marca dos 20 anos me deixa extremamente orgulhoso, demonstra longevidade, isso no futebol é difícil e eu tenho mostrado que é possível.”

Golo 900 pela seleção?

“Ui, passo a passo, o 850 foi feito agora. Se calhar 860, 870, devagarinho, para não ir com muita sede ao pote. É uma meta, obviamente. Enquanto jogar futebol, a minha meta e ambição é sempre verde, cá para cima, em frente, e alcançar os objetivos da seleção, clube e os meus. Agora é desfrutar do momento. Como digo muitas vezes, a vida é dinâmica e o futebol também. Amanhã é incerto, ninguém sabe o que vai acontecer. O momento é bom, tanto no clube, como na seleção.”

Félix e Cancelo sem minutos: o grupo está fechado?

“Vou ser claro: estou há 20 anos na seleção e não houve uma convocatória em que não houvesse controvérsia. Porque este foi, aquele não foi, vai acontecer sempre. Foi com Roberto Martínez, Fernando Santos, Carlos Queiroz, Paulo Bento. Será sempre igual. Aquilo que mais peço e gostava que acontecesse é: independentemente de quem está e poderá vir, em boa forma ou se calhar menos rodado do que todos os outros, é apoiar as decisões do nosso treinador, temos de estar com ele, jogamos para o nosso país, jogamos pela nossa seleção. Temos de pensar que o único objetivo é qualificar para o eUropeu e apoiar as decisões do selecionador. Ele tem de tomar decisões e vai haver sempre controvérsia, mas o objetivo e foco é Portugal ganhar, independentemente de com A, B ou C, é ganhar e apoiar as decisões do mister.”

Há 18 anos a marcar 17 golos ou mais: chegará às duas décadas assim?

“Não estaria mal, acho que habituei a malta a um número tão alto que às vezes parece que 10, 15, 17 é pouco. Foi aquilo que habituei, é a fasquia que meto no meu repertório. Sinto-me bem. Sinto que tenho feito um bom trabalho, fiz uma boa pré-época, está a dar resultados. Acho que vou fazer mais golos do que esses 17, tenho essa confiança, comecei bastante bem. A pré-época foi a chave, não tinha feito uma tão boa como esta. Vou tentar aguentar o máximo possível durante a temporada, porque há momentos de altos e baixos, há sempre uma quebra, quero que aconteça de forma natural e normal, mas que na altura que precisem do Cristiano, no clube e seleção, que eu esteja lá. Estou a desfrutar, estou feliz, as coisas têm corrido bem. É continuar esta dinâmica positiva.”

Mundial no horizonte?

“Vou ser muito sincero: eu, hoje em dia, e nos últimos dois anos aliás, penso de maneira um bocado diferente. Aconteceram algumas coisas a nível profissional e pessoal, que me fizeram pensar que a vida tem de ser vivida no momento, não pensar a longo prazo, já não consigo isso, eu penso a curto prazo. tudo pode acontecer. De um momento para o outro há qualquer coisa e muda tudo. Ambicioso ir ao Europeu e fazer um excelente Europeu, é a curto prazo, mais ou menos, e tudo o resto veremos. Como disse: a vida é dinâmica e não se sabe o que pode acontecer. Por isso, é enjoy the moment.

Polémicas no futebol português

“Não me surpreende, sinceramente. Polémica há em todos os campeonatos, uns mais que outros, mas em Portugal está a haver mesmo muita polémica, e isso é mau. As pessoas minimamente inteligentes sabem disso, mas cada um puxa a brasa à sua sardinha, como se costuma dizer. Está como tem de estar, não me surpreende. É uma fase menos boa, mas espero que isto possa ser retificado o mais rápido possível. Fala-se muito pouco de futebol. Abri há pouco um jornal desportivo e as primeiras três notícias são polémicas fora do futebol. Isso faz-nos pensar: afinal o mais importante é uma má notícia.”

Polémicas no futebol português II

“Sou português, gostava que a Liga Portuguesa fosse uma liga top, mas não vai ser, nem é, e um dos problemas são esses, todo o mundo a opinar, tudo a debater por isto e aquilo, 40 canais a falar, é muito mau. Acredito que Portugal, nos próximos tempos, não vai ser uma liga top, como a Premier, a Liga Espanhola, a alemã. Achava que Portugal podia entrar no top-4 ou 5. A Liga Saudita é melhor do que a Liga Portuguesa, digo isto sinceramente. Não só pelas polémicas, não há tanto barulho e a qualidade dos jogadores é muito maior. Espero que Portugal possa melhorar. Acaba por ser um pouco um circo o que tem acontecido nos últimos tempos.”