O erro de estatística merece-lhe quase o menosprezo na voz, não parece preocupado com o que já tem na mesma dose em que não emanava entusiasmo antes de realmente o. Sereno e bem assente na terra, sem gáudio na voz, Raffaele Storti fala oito dias após ter igualado, pensava-se, a fasquia de 21 ensaios marcados numa época na ProD2, segunda divisão do râguebi francês. A marca pertencia a um fijiano, vindo ao mundo com o nome Mosese Ratuvou, desde 2014, uma década de tempo em teoria não tão antiquada quanto isso para acontecer o tipo de imbróglio contabilístico que atrasou o registo de propriedade do recorde para o nome do internacional português.
Conta o próprio que “supostamente” o antigo detentor da proeza, então jogador do Lyon, “tinha 21 ensaios, mas foram a ver e num dos jogos”, onde “contabilizaram que marcou dois ensaios”, afinal “um deles era de outro fijiano”. Raffaele Storti relata a situação como se tudo fosse natural e uma questão de somenos. “Para a estatística não sei se tenho de marcar outro, não percebi, ao menos já me deram o recorde”, constata, factualmente. “É indiferente, são pormenores”, acrescenta, acentuando o quase menosprezo de uma história que, diz quem lá esteve, foi tratada à época com uma leveza incomum em provas profissionais.
Yves Billet, um jornalista do “Progrés”, estava no jogo entre o Colomiers-Lyon de 2014 onde Mosese Ratuvou teria deixado dois ensaios. Ao recordar a partida ao site “Rugbyrama”, contou que um desses toques de meta pertenceu a Waisale Sukaneveita, fijiano a quem perguntou, no final do encontro e já no balneário, “se tinha sido ele a marcar”. O jogador “disse que sim”, mas, nos registos oficiais da ProD2, foi Mosese Ratuvou a ficar como autor de dois ensaios. Oficiosamente, é Raffaele Storti o dono do recorde após o Béziers-Aurillac de há uma semana. “No balneário deram-me todos os parabéns, mas foi um sentimento meio-agridoce porque, por um lado, tínhamos acabado de ter uma derrota dura, mas tinha conseguido um recorde, foi um sentimento misto”, conta.