FC Porto

Sérgio Conceição responde a crítica “má e enganadora” de Rui Moreira: “Possivelmente não gostará desta grandíssima instituição”

Após 37 dias de silêncio, Sérgio Conceição voltou a falar, numa longa conferência de imprensa de antevisão ao jogo contra o Estrela da Amadora (sexta-feira, 19h15, Sport TV1). O técnico respondeu ao “adepto” Rui Moreira, dizendo que o seu passado “não se pode apagar”, considerando que este será um ano “difícil” porque “muita gente se quer posicionar” para as eleições de 2024. Conceição lamentou a saída de Otávio, justificou a não contratação de João Moutinho por haver “seis jogadores para a posição” que o médio ocupa e defendeu a contratação de Francisco Conceição

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Regresso às conferências

“Um treinador gosta de fazer a antevisão dos jogos, tal como as flashes e as conferências depois dos jogos. Gosta de estar no banco, é o meu papel, gosto de treinar. Muitos de vocês já me acompanham aqui há sete anos. Tinha saudades, sim”

Regresso do FC Porto à Reboleira

“É um campo tradicionalmente difícil, lembro-me disso como jogador. Vamos olhar para o momento, para a equipa atual, liderada pelo Sérgio [Vieira], que fez um excelente trabalho levando a equipa à I Liga. É uma equipa muito competente nos diferentes momentos do jogo. Temos de ir a esse campo difícil, olhar para o que tem feito de bom e contrariar esse Estrela que vai estar motivado por jogar contra um candidato ao título”

O que tem achado do começo da época?

“Nós, treinadores, esperamos sempre mais. Houve momentos de grande brilhantismo nestes anos à frente do FC Porto em que eu achava que havia coisas a melhorar. Esperamos sempre o máximo, sei que há coisas que temos de melhorar. É verdade que ainda não perdemos, estamos em primeiro lugar, mas podemos e devemos fazer mais em termos de resultados. Tivemos cinco jogos, incluindo a Supertaça, e não os conseguimos ganhar todos. Estamos aqui para evoluir a equipa, sermos sempre competitivos e, no final da época, fazer as contas”

Críticas de Rui Moreira

“Há temas periféricos que, pelos vistos, são do interesse nacional. Ao presidente da Câmara, pelo respeito que tenho pela cidade a que ele preside, acho que não devo responder. Ao vice-presidente do conselho superior, acho que há pessoas adequadas para o efeito, neste caso o nosso presidente. Ao adepto, como ele teve protagonismo e falou em público, vou responder em público: acho que a forma e conteúdo é má e enganadora. O meu passado é indelével, não se pode apagar. São 10 títulos. Nestes anos, entre receitas e gastos, há um saldo positivo de mais de €600 milhões. Estamos sempre sujeitos à crítica, é normal. Os verdadeiros adeptos, e não os pseudo-adeptos, têm de perceber que estamos num ano difícil para o clube. Passámos alguns anos sob a alçada do fair-play financeiro, foi muito difícil sair dessa situação, graças ao sucesso desportivo, associado a boas prestações na Europa. Foi um garrote que nos privou de, ano após ano, segurarmos os nossos melhores jogadores e reforçarmos como queríamos”

Ano eleitoral no clube

“É um ano difícil, os adeptos têm de ser inteligentes para perceber que, num ano eleitoral, há muita gente que se quer posicionar. O que é que eu posso dizer? A minha mensagem vai direitinha ao verdadeiro adepto, ao que sofre, ao que espera três, quatro ou cinco horas por um autógrafo, ao que acompanha a equipa ao sol e à chuva. Temos de estar juntos e unidos, se não estivermos será mais difícil. Quando vejo um adepto [Rui Moreira] criticar, da forma como o fez e pelo conteúdo, possivelmente não gostará desta grandíssima instituição que é o FC Porto”

Expulsão na Supertaça

“Fui expulso, já passou. Fui castigado por isso, passou, o importante é o Estrela. Houve uma situação de uma possível não falta, que pelos vistos foi falta para o árbitro. A expulsão foi feita a 20 ou 30 metros, não sabia para quem era a expulsão, depois vi que era para mim”

Controvérsia em torno de Taremi e os penáltis

“A crítica que interessa ao Taremi é a dos colegas e da equipa técnica, que é sempre uma crítica construtiva. Isso é que interessa ao Taremi, ponto final”

Aumento dos minutos de tempo de compensação

“Acho que a compensação que é dada é justa, é o que toda a gente andava a pedir. O nosso tempo de jogo, em Portugal, era dos mais baixos da Europa. O nosso [FC Porto] tempo médio por jogo são 100 e poucos minutos, é dos mais altos, mas o tempo útil de jogo é o mais baixo, isso quer dizer alguma coisa. Não digo que as equipas fazem anti-jogo contra nós, mas nos nossos jogos, o que nós queremos — ritmo alto, velocidade alta, intensidade —, é difícil. E temos de ver, também, quantos desses minutos de compensação são efetivamente jogados”

Mercado

“Alguns países ainda não fecharam o mercado, o que prejudica muito as equipas de menor capacidade financeira, como deve compreender. Para quem está a precisar, o timing é sempre mau. Não é normal eu chegar à véspera de um jogo e haver um jogador que tem sido fundamental e vai sair. Estou a falar do Otávio. Na semana toda do jogo com o Farense, o Otávio ia jogar, à sexta entrei numa clínica para fazer uma operação aos meus joelhos, o que é público. Saí diretamente do hospital para o Olival, ainda não muito bem devido à anestesia e foi difícil perder um jogador da qualidade dele. Não nos podemos esquecer que perdemos o campeonato por dois pontos e o jogo contra o Farense valiam três"

João Moutinho

“O João foi uma questão de timing. O presidente falou-me nessa situação. Não olhei para o passado, porque se fosse assim tinha de olhar para o Vítor Baia, para o Fernando Couto, para o Jorge Costa. Olhando para o passado recente dele, parecia-me que ainda estava em condições de nos ajudar. Falei com o João Moutinho ao telefone e, com a saída do Otávio, houve que ajustar uma ou outra situação, dentro daquilo que é o nosso mercado, na capacidade que temos no mercado, com grandes dificuldades. Esse timing não foi o melhor, até porque, para essa posição, temos o Romário Baró, jovem da formação, temos o Bernardo Folha, outro jovem, o Nico que é um jovem em quem o clube apostou, o Varela, o Grujic e o Eustáquio. Temos seis jogadores para a posição que o João ocupa. Não temos a capacidade para, como aconteceu com o Al-Nassr, perder dois jogos e dar mais €20 milhões pelo Otávio. Tivemos de conversar durante dois ou três dias sobre entradas e saídas e o João optou por ir para Braga. O João, como o Quaresma, como o Pepe, fazem parte da identidade do clube. Foi isto”.

Arrepende-se de algumas atitudes no campo?

“Deixo essa resposta para um programa do Daniel Oliveira, que já me convidou duas ou três vezes e não consegui estar presente. Digo aquilo que sinto. Não sou o mais genuíno possível, sou genuíno, digo o que sinto. Olhando para o que fiz na altura [não sair depois da expulsão na Supertaça], obviamente que mudaria alguns comportamentos. Mas naquele momento fui o que fui. A minha vida foi uma vida de luta, acredito que os outros treinadores todos também tenham tido uma vida de luta e ninguém gosta de perder. Mas há uns que sentem de forma diferente. Isso justifica tudo? Obviamente que não”

Dificuldades de agosto

“As questões do mercado mexem muito com o plantel. Os jogadores têm muita gente a gravitar no seu ambiente e não é fácil ter tranquilidade de espírito para, no jogo, corresponder da melhor forma. Isso não justifica tudo, temos entrado mal nos jogos, andamos a jogar poquinho, na minha opinião. Tenho dado mais minutos, nestes anos, aos jogadores que, no início da época, têm mais tempo de trabalho connosco. A exceção tem sido o Nico. A qualidade dos plantéis é, cada vez mais superior, e a das equipas técnicas também. Prefiro, no início da época, dar mais minutos a quem já cá está do que quem chega”

Contratação de Francisco Conceição

“Vou falar de um tema que vocês não perguntaram. Houve muita gente que não compreendeu a contratação, eu não compreendo essa incompreensão. O Francisco é muito válido no seu jogo, na forma de desequilibrar, um jogador irreverente, de quem necessitávamos, até por aquilo que temos nas alas, olhando para o histórico de lesões do Veron. Veio a custo zero, faz parte da formação, se o clube tiver de pagar a cláusula é um bom sinal. É um jogador que acho que pode ser interessante, tal como o Jorge [Sánchez], o lateral-direito. Vamos jogar seis vezes em 24 dias, vamos precisar de toda a gente, e gente que tenha qualidade e que, como o Francisco, conheça e ame o clube e a cidade. Falo disto porque creio que houve alguma polémica em torno de um jogador que nos pode dar muito nesta época”