Tribuna 12:45

O Mundial de Clubes e uma pescadinha de rabo na boca

Uma festa FIFA, com a família Trump na asssitência
Marco Bello - FIFA

Vão perdoar-me que volte ao tema, não queremos que esta missiva que vos chega todas as semanas se torne monotemática, mas o futebol está sequestrado. Antes, ainda havia a decência de enfiar os cambalachos e os pagamentos de favores em quartos de hotel, mas agora já nem há pejo em ser discreto e o sorteio do bendito Mundial de Clubes da FIFA, competição que ninguém quer a não ser Gianni Infantino e uns quantos clubes que podem com ele lucrar, transformou-se numa espécie de desfile de carnaval, num carrossel com cheiro a dinheiro e influência.

Gianni Infantino, sabemos, é Gianni Infantino, o homem que defendeu o Mundial de dois em dois anos e que agora se vira para o seu projeto pessoal, um Mundial de Clubes que terá a tarefa impossível de rivalizar com a Liga dos Campeões, atravancando ainda mais um calendário que penaliza jogadores e ligas nacionais. Mas em Zurique, um desejo é um desejo, mesmo que ele demore a fazer cócegas nos nervos das extremidades dos patrocinadores, dos broadcasters - o acordo com a DAZN foi anunciado na véspera do sorteio - e principalmente dos adeptos.

Quando assim é, vale muito ter compinchas. E Gianni Infantino colocou-os na fila da frente durante o sorteio. Donald Trump, “um amigo muito, muito especial”, mandou uma mensagem-vídeo balbuciando um conjunto de frases aleatórias sobre o seu buddy. “Só quero dizer que vocês são liderados por um homem chamado Gianni, eu conheço-o só como Gianni, e ele é um ganhador. Ele é o presidente e eu sou o presidente”. Ah? Pois.

Mas não se ficou por aqui a ligação direta a Mar-a-Lago. Trump - que ainda não é presidente dos Estados Unidos, nunca é demais recordar - não estava em Miami, mas estava a filha Ivanka, o genro Jared Kushner e o neto. De Infantino ouvimos no discurso inicial que foi de Kushner a ideia do desenho do troféu do Mundial de Clubes, em mais um momento embaraçoso para não dizer constrangedor, como seria melindroso ver o pequeno neto de Trump a ter a primazia de tirar a primeira bola do sorteio, perante o olhar perdido de Gloria Estefan, diva da música latina.

Jared Kushner, diga-se, é uma das espinhas da pescadinha de rabo na boca que se tornou a FIFA. Diz Miguel Delaney no livro “States of Play” que trazer o Mundial de volta aos Estados Unidos tornou-se numa missão pessoal do genro de Trump, que terá viajado até à Arábia Saudita para garantir, junto de Mohammed bin Salman, o voto da federação saudita para a candidatura dos EUA, México e Canadá. Em junho de 2018, a candidatura tripartida bateria facilmente a de Marrocos. No final desse ano, a administração Trump desvalorizou as acusações imputadas a Bin Salman no sequestro e morte do jornalista Jamal Khashoggi, defendendo a manutenção das relações diplomáticas entre os dois países e negando, meses depois, um bloqueio de venda de armas a Riade. No ano passado, o “Washington Post” revelou que o fundo soberano da Arábia Saudita (PIF) investiu na empresa de Kushner, a Affinity Partners.

Terá sido através da família Trump, de quem se aproximou durante o processo de candidatura ao Mundial dos Estados Unidos, que Gianni Infantino forjou uma ligação a Mohammed bin Salman, lê-se no livro “State of Play”. Esta quarta-feira, e apesar de todos os registos medievais em termos de direitos humanos, a Arábia Saudita será confirmada como anfitriã do Mundial de 2034, até porque falamos de uma candidatura única. E uma candidatura que obteve da FIFA a maior pontuação de sempre na avaliação a uma proposta para sediar um Mundial.

Voltemos ao Mundial de Clubes. A seis meses do arranque, a prova tem apenas três patrocinadores. Talvez o interesse aumente agora que finalmente há um acordo com a DAZN, que irá transmitir os 63 jogos do Mundial de Clubes de forma gratuita. O negócio ter-se-á feito por cerca de mil milhões de euros, que serão quatro vezes menos face aos desejos iniciais da FIFA. Aqui na Tribuna Expresso continuamos à espera de respostas por parte da FIFA a perguntas que fizemos sobre o número e conteúdo das propostas de operadores de TV para a transmissão da competição e do grau de satisfação do organismo face ao interesse comercial que o Mundial de Clubes tem suscitado. No início de outubro, a Reuters noticiou que o fundo soberano da Arábia Saudita estava a trabalhar na compra de uma participação minoritária da DAZN, informação que o PIF negou. Mas veremos se em breve a Aramco, a petrolífera estatal do reino da Arábia Saudita, não estende o seu patrocínio ao Mundial de 2026, já confirmado, ao de Mundial de Clubes de 2025.

O que se passou

Continua a agonia do Sporting de João Pereira, com mais uma derrota no campeonato (e com recordes negativos), e o FC Porto não se deu muito melhor nesta jornada da I Liga, em que o vencedor acabou por ser um Benfica em serviços mínimos.

O que antes era história agora já é “apenas” objetivo. E objetivo cumprido: Portugal está pela terceira vez consecutiva no Europeu feminino de futebol - e graças a dois golos da farmacêutica Diana Silva.

Depois do bronze nos Jogos Olímpicos, Patrícia Sampaio trouxe medalha do mesmo metal do importante Grand Slam de Tóquio.

Acabou a temporada de Fórmula 1, com a McLaren campeã de construtores um ror de anos depois e Lewis Hamilton a despedir-se da Mercedes.

Zona mista

Vou, como se costuma dizer, pendurar as minhas botas. Mas com um sentimento de dever cumprido, de missão cumprida

A revelação é um cliché, uma frase feita daquelas às quais o futebol se aferrou, mas não há nada de estereótipo ou de lugar-comum na carreira de Nani: são quatro Premier Leagues pelo Man. United, uma Liga dos Campeões. Um dos jogadores mais impressionantes que saíram da academia do Sporting. E, o ponto alto, aquele Euro 2016: três golos, uma assistência, uma preponderância talvez pouco reforçada e celebrada, ele que foi o líder quando Portugal, na final, precisou desesperadamente de um. Nani diz adeus ao futebol e o futebol e todos nós temos de agradecer a Nani

O que aí vem

Segunda-feira, 9
⚽ O Estrela-Arouca fecha a jornada da I Liga (20h15, Sport TV1)
⚽ Em Inglaterra, o Wolverhampton viaja até casa do West Ham (20h, DAZN1) e na La Liga o Getafe recebe o Espanyol (20h, DAZN2)
🤾🏼‍♀️ Andebol, campeonato nacional: Benfica-Sporting (20h, BolaTV)

Terça-feira, 10
⚽ Após três derrotas consecutivas, o Sporting joga na Champions em casa do Club Brugge (20h, Sport TV5). Siga ainda o Atalanta-Real Madrid (20h, DAZN1) e o Bayer Leverkusen-Inter (20h, DAZN2)
🏀 Basquetebol, Liga dos Campeões: Benfica-Baxi Manresa (20h25, Sport TV1)

Quarta-feira, 11
⚽ O Bolonha é o adversário do Benfica em mais uma jornada da Liga dos Campeões (20h, Sport TV5). Veja também o Juventus-Manchester City (20h, DAZN1) e o Borussia Dortmund-Barcelona (20h, DAZN2)

Quinta-feira, 12
⚽ Na Liga Europa, o FC Porto recebe o Midtjylland (20h, Sport TV5). Antes, o SC Braga joga em casa da Roma (17h45, DAZN1). Já na Liga Conferência, o St. Gallen é o rival do Vitória (20h, DAZN1)
🏀 NBA: Boston Celtics-Detroit Pistons (0h30, Sport TV2)

Sexta-feira, 13
⚽ Em Itália, o Empoli recebe o Torino (19h45, Sport TV1) e na Ligue 1 o St. Étienne joga em casa do Toulouse (19h45, Sport TV2)

Sábado, 14
⚽ I Liga: Farense-Gil Vicente (15h30, Sport TV1), Nacional-Moreirense (18h, Sport TV2) e Sporting-Boavista (20h30, Sport TV1)
⚽ Na Premier League, o Liverpool recebe o Fulham, de Marco Silva (15h, DAZN1) e em Espanha há dérbi de Madrid, entre o Rayo e o Real Madrid (20h, DAZN1)

Domingo, 15
⚽ Ruben Amorim estreia-se em dérbis de Manchester na Premier League: Man. City-Man. United (16h30, DAZN1)
⚽ I Liga: Arouca-Santa Clara (15h30, Sport TV1), AFS-Benfica (18h, Sport TV1) e Estoril-Casa Pia (20h30, Sport TV1)
🏀 NBA: Indiana Pacers-New Orleans Pelicans (22h, Sport TV3)

Hoje deu-nos para isto

A tarja era tão grande que não cabia na transmissão televisiva. “Ano passado eu morri, mas esse ano eu não morro” era a mensagem, tirada da canção de Belchior que não foi escrita para o Botafogo de 2024 mas bem podia ter sido. Em 2023, o Botafogo chegou a ter 13 pontos de vantagem no Brasileirão e acabou em 5.º, aconteceu Botafogo, poderíamos dizer, um clube grande em talentos, o emblema de Garrincha, Didi ou Nilton Santos, mas enorme em debacles e desilusões históricas, uma sina qualquer vinda do mais fundo do realismo fantástico latino-americano. Mas um ano depois de ter “sangrado demais” e de ter “chorado pra cachorro”, o Botafogo deixou de ser Botafogo.

E pelas mãos de um português, Artur Jorge, recebido com desconfiança (cá e lá) e que agora bem pode pedir uma estátua junto ao Engenhão, ou ao Estádio Olímpico Nilton Santos: a equipa do Rio de Janeiro tornou-se apenas a terceira, depois do Santos de Pelé e do Flamengo de Jorge Jesus, a juntar a Libertadores ao Brasileirão, porque ao grande sofrimento pode sempre seguir-se uma enorme alegria. E com drama, claro, sempre. O dramatismo quase cinematográfico de ganhar a Libertadores com um jogador a menos e de esse jogador marcar na última jornada do Brasileirão, que confirmou o título. “Deus é brasileiro e anda do meu lado”, cantou Belchior. E também pode ser um niquinho de português.

Buda Mendes

Tenha uma boa semana e obrigado por nos acompanhar aí desse lado, lendo-nos no site da Tribuna Expresso, onde poderá seguir a atualidade desportiva e as nossas entrevistas, perfis e análises. Siga-nos também no Facebook, Instagram e no Twitter.

E escute também o podcast “No Princípio Era a Bola”, com a análise aos jogos da semana cá dentro e fora de portas, como sempre com Tomás da Cunha e Rui Malheiro.