Liga dos Campeões

O deslumbrado Jude Bellingham chegou cedo à terra prometida. Em breve, vai descobrir que há vida para além dela

Jude Bellingham atingiu o último nível do futebol de clubes: ganhar a Liga dos Campeões. A frescura dos 20 anos não quer deixar o internacional inglês por aqui. “É importante manter esse nível agora, mas nunca se esquece a primeira”, diz o médio do Real Madrid que todos os dias descobre algo novo sobre si

BSR Agency

Jude Bellingham não sabia para onde se virar. Entrevistas, fotografias, conversa com colegas de equipa, necessidade de dar carinho ao troféu. Assarapantado, dividia o olhar por tudo o que estava a acontecer à sua volta quando uma série de pessoas alheias invadiram o relvado para mostrar através das câmaras a chegada ao topo de um jovem de 20 anos.

Versátil como no campo, deu conta da encomenda. Ainda ninguém conseguiu tornar os jogadores suficientemente maquinais para serem insensíveis a ganharem a Liga dos Campeões com a idade do internacional inglês. Marco Reus, de 35 anos, disputou duas finais e vai abandonar o Dortmund sem ganhar nenhuma. Ali, no seu país, no meio de um onírico Wembley, Jude ia rodando a cabeça como quando está a jogar e espreita por cima do ombro para verificar se tem pressão nas costas.

Uma das pessoas que assoberbou o relvado após o levantar do troféu foi José Mourinho. Oficializado como novo treinador do Fenerbahçe enquanto a final da Liga dos Campeões ainda decorria, o treinador português esteve em Londres a comentar o jogo junto da TNT Sports. Vendo o Special One por ali, Jude pediu-lhe que tirasse uma fotografia com a mãe, fã confessa do técnico. Mourinho fê-lo e lançou um repto: “Agora, vens para o Fenerbahçe”.

Catherine Ivill - AMA

O médio do Real Madrid, com a medalha ao peito e o patch na camisola atualizado para o número de vezes que os merengues conquistaram a competição (15), juntou-se a Mourinho para abordar a conquista. “É um sentimento especial. Aqueles jogadores que já conquistaram cinco ou seis [Ligas dos Campeões] dizem-me sempre para aproveitar a primeira, porque finalmente conseguir atingir o topo da montanha é um sentimento como nenhum outro. É importante manter esse nível agora, mas nunca se esquece a primeira”.

Foi um espetar da bandeira na terra prometida. O jogador que em criança, como contava uma reportagem do The Guardian antes da final, usava o corte de cabelo de Ronaldo Nazário, agora patenteou uma celebração icónica que se repete pelo mundo fora.

Em quatro anos, Jude Bellingham passou de estar no Birmingham, envolvido na luta pela permanência no segundo escalão do futebol inglês, para ganhar a Liga dos Campeões no Real Madrid. Pelo meio, esteve três anos no Dortmund, adversário que assistiu presencialmente a um dos marcos mais importantes do prodígio que contratou aos 17 anos.

Richard Sellers/Allstar

Líder de gente madura e de outra que nem tanto, Carlo Ancelotti, ciente de que Jude Bellingham não era um produto acabado quando chegou a Madrid – talvez nunca venha a ser, embora esteja no pináculo do futebol mundial numa série de parâmetro –, deu o empurrão que faltava ao inglês. “Ele desbloqueou uma parte do meu jogo que eu, até aqui, não sabia que tinha”, confessou Jude. “É isso que fazem os treinadores de classe mundial. Quando ouvimos jogadores falarem deles, não é apenas por respeito. Esses treinadores mostram-te o quão bom tu podes ser, testam os limites do teu potencial e aprendes uma coisa nova sobre o teu jogo todos os dias”.

Toni Kroos realizou o último encontro pelo Real Madrid na final da Liga dos Campeões. Federico Valverde vai herdar a camisola oito, Jude Bellingham fica com a batuta que era do maestro alemão.