O Liverpool-Real Madrid acabara de ultrapassar a hora de duração. Os ingleses, em vantagem por 1-0, cometeram um penálti, o que colocou todos os focos de atenção em Kylian Mbappé. As câmaras fizeram zoom no francês, as luzes de Anfield fecharam-se nele, os olhares foram atraídos para o homem vestido de branco que ficou, de bola na mão, diante da marca do castigo máximo.

Quando os jogadores de ambas as equipas desimpediram a área, procedimento necessário para a marcação da falta, Mbappé olhou apressadamente para ambos os lados. As miradas centravam-se nele, mas ele nunca olhou para a baliza. Mal o árbitro apitou, não se viu o habitual respirar fundo. Kylian não se ofereceu um instante de pausa, de alívio de tensão. A autorização do juiz foi como um martelo que ditava que uma condenação poderia ser cumprida, um chicote que espoletou uma reação.

Apito, corrida imediata, remate denunciado. Excelente estirada de Kelleher, penálti defendido.

Mbappé escondeu a face do mundo. Só tem 25 anos, mas vive esta vida de estrela desde a adolescência, tempo para saber que, no guião da noite, ele já estava marcado como o vilão. Se os primeiros tempos do ex-PSG em Madrid geraram desconfiança, o jogo de Anfield determinou que, no mundo ultra escrutinado e debatido do Real, já não estamos perante um arranque frouxo ou pouco fulgurante. Kylian deixou de ter o rótulo de “suspeito” para ter o de “culpado”.

É, oficialmente, “um problema sério”. Um “mistério”. As palavras são de Miguel Ángel Lara, jornalista da “Marca” que há muito segue o quotidiano dos merengues. “Não é o verdadeiro Mbappé, está a ficar claro que o jogador que chegou aqui não tem nada a ver com o jogador que era há dois ou três anos”, considera Lara.