Que o Olympiacos não é, propriamente, o clube mais estável do universo, surpreenderá cerca de zero pessoas que prestem um coche de atenção às periferias do futebol europeu. Um gigante na Grécia, espanta o clube de Atenas ser colecionador de 47 campeonatos, de longe a maior barriga de títulos no país, face ao animado jogo da cadeira que parece nortear a sua vida: nos últimos 30 anos, trocou 36 vezes de treinador e apenas cinco mantiveram o assento quente durante mais do que uma época. Nesse instável poiso que neste período até foi com um português que partilhou mais tempo, não será Carlos Carvalhal a adensar essa lista.
Contratado de fresco, em novembro, para comandar a equipa, o técnico está a negociar a saída do Olympiacos ao fim de apenas 10 jogos porque experimentou na pele os efeitos da volatilidade de Evangelos Marinakis, o excêntrico presidente do clube. Mas não tanto como Pedro Alves, outro português chegado a Atenas no mesmo mês para ser diretor-desportivo e que orquestrou a contratação do treinador, de 58 anos. Foi ele, contaram à Tribuna Expresso, que a direção do clube ‘pressionou’ para puxar uns cordelinhos de influência sobre Carlos Carvalhal de modo a alguns jogadores não perderem protagonismo na equipa após as mexidas no mercado de inverno e essa postura precipitou o furacão.
Pedro Alves recusou fazê-lo, não gostou da atitude da direção, o relacionamento entre quem manda no clube e a pessoa que gere o projeto desportivo azedou e o português, antigo dirigente do Estoril Praia (entre 2018 e 2023), decidiu sair. Na segunda-feira, sem mencionar o seu nome, o Olympiakos anunciou Darko Kovacevic como novo diretor-desportivo, outra marca de instabilidade - é a terceira pessoa a assumir o cargo esta época. De repente, o atual 4.º classificado da liga grega trocou de mente para pensar o seu futebol uma semana após fechar o mercado de inverno que fez chegar oito jogadores.
Cinco são portugueses (Gelson Martins, Chiquinho, David Carmo, André Horta e Rúben Vezo), um foi por empréstimo (Jovane Cabral) do Sporting e outro cedido (Fran Navarro) pelo FC Porto. A preferência pelo mercado nacional, com um diretor-desportivo e um treinador fartos de o conhecer, era compreensível. O imbróglio agora surgido também é óbvio: uma série de jogadores foram contratados por um técnico para uma ideia de jogo e uma visão de impacto que vão deixar Atenas muito em breve. Vindos todos eles a pedido de Carlos Carvalhal, três foram titulares (Carmo, Chiquinho e Navarro) no último jogo, um dérbi da capital grega perdido (2-0) para o Panathinaikos em que também jogaram André Horta e Daniel Podence. A par do médio João Carvalho, o avançado era um dos portugueses que já estavam no plantel.
Apesar da conhecida pouca duração dos treinadores no Olympiacos, Carlos Carvalhal foi o sexto português a aceitar a aventura. A porta foi aberta por Leonardo Jardim, em 2012, seguido de Vítor Pereira (cinco meses durante 2015), Marco Silva (11 meses entre 2015 e 2016) Paulo Bento (seis meses em 2016 e 2017) e Pedro Martins, o caso raro na história do clube por se ter mantido no cargo durante pouco mais de quatro anos, com uma pandemia incluída. Com 219 jogos, saiu com a maior longevidade na história do Olympiakos e, de longe, a ostentar o feito de ser quem conviveu durante mais tempo com Evangelos Marinakis, homem que já diz bastante ao futebol português.
E não por, desde 2010, ter contratado meia dúzia de treinadores nascidos em Portugal. Foi nesse ano que o filho de um dos 11 empresários navais que compraram o Olympiakos, no final da década de 1970, assumiu o controlo do clube e o passou a gerir à bolina de um feitio percecionado como volátil. E polémico, também. Nestes 14 anos, vários casos na justiça grega visaram Marinakis por suspeitas de tráfico de droga, esquemas ilegais de apostas desportivas, tentativa de influenciar árbitros e difamação. O empresário seria absolvido de todas as alegações, mas a sua reputação persegue-o que nem sombra.
Com ela se acercou, em novembro último, do Rio Ave, que buscava investidores que lhe solucionassem problemas financeiros e encontrou em Marinakis uma boia de salvação. Os custos em dinheiro, aprovados pelos sócios do clube de Vila do Conde, implicaram o pagamento de 20,5 milhões de euros para ser constituída uma SAD e o grego ficar com 80% do capital. Ou seja, com uma mãozinha de Jorge Mendes a mediar o negócio (presença então assumida por Alexandrina Cruz, presidente do Rio Ave), ficou como dono do clube, tal como se apoderou do Nottingham Forest, hoje da Premier League, por cerca de €57 milhões.
É este o homem que preside à direção do Olympiakos que tentou interferir na escolha de quem jogava ou não na equipa principal.