No futebol convivem vários tabus. Um deles, que mais do que tabu é um tormento pela liberdade que asfixia e pela normalização que se perde de algo normal, é a homossexualidade. Não se conhecem futebolistas gays na elite do futebol masculino (com exceção para Jakub Jankto, do Cagliari), o que não é verdade no futebol feminino, à frente em tantas coisas.
Do Brasil vem agora uma história que obrigatoriamente colocou o tema em cima da mesa: o novo presidente do Bahia, Emerson Ferretti, é assumidamente homossexual. O ex-guarda-redes recebeu 1089 votos dos sócios do clube de Salvador, atualmente no 17.º lugar no Brasileirão, em lugares de despromoção. O clube é detido pelo Grupo City, que detém, entre outros, Manchester City, New York City e Girona, a equipa sensação da liga espanhola.
Ferretti, de 52 anos, é o primeiro presidente homossexual ou assumidamente homossexual do futebol brasileiro. A eleição, garantiu o próprio numa entrevista ao Globo Esporte (GE), nada teve a ver com esse feito, ou seja, não foi política ou para o seu caso ganhar tração e normalizar o que ainda não é normal e devia ser.
“A minha eleição aconteceu porque me qualifiquei e preparei para estar na presidência”, esclareceu. “O facto de ser gay vem junto, mas não como principal. Não deixa de ser um marco no futebol brasileiro”, concedeu o antigo guarda-redes que passou por clubes como Grêmio, Flamengo, Vitória e Bahia e que na sua juventude ouvia, dos próprios elementos da família, que ser-se gay era uma “sem-vergonhice”, “descaração” e “aberração”.
En agosto de 2022, o também comentador e professor de gestão desportiva foi o convidado do podcast “Nos armários dos vestiários” do GE e aí, depois de 30 anos no futebol sendo quem não era, decidiu expor-se para encorajar outros atletas a darem o mesmo passo. Como era guarda-redes das seleções jovens do Brasil, a fama foi engolindo a sombra, tornou-o uma figura mediática. “A cada defesa que eu fazia, cada vez que eu me destacava mais dentro do campo, o buraco vazio aumentava também inversamente proporcional. Quanto mais famoso eu ficava, mais difícil se tornava ser gay dentro desse ambiente”, explicou. Foi uma lesão grave que lhe permitiu equilibrar a vida pessoal e descobrir o seu lugar.
“O ambiente do futebol é muito hostil para um gay, muito mesmo”, sentenciou no podcast referido em cima. “Eu fico imaginando quantos garotos desistiram de se tornar jogador de futebol por conta disso, por perceberem essa situação. Quantos talentos foram perdidos? O futebol perdeu, os clubes perderam, porque o ambiente realmente não ajuda. Eu segui com tudo isso, mas sofri com as consequências de seguir, era o meu sonho. Eu queria ser goleiro do Grêmio. Eu queria ser um jogador de futebol. Eu conquistei isso, só tive que enfrentar um outro lado que é muito difícil.”
Agora, como presidente de um clube do primeiro escalão do futebol brasileiro, mesmo que não queira terá sobre os ombros a responsabilidade de ser quem é, de explicar porque não foi quem era enquanto jogador. E assim talvez amoleça o futebol e as gentes do futebol…