Futebol internacional

O inacreditável colapso do Botafogo, que perdeu 13 pontos de vantagem e está em risco de ver fugir-lhe o Brasileirão

Clube do Rio de Janeiro chegou a ter 13 pontos de vantagem à 19.ª jornada, em meados de agosto, mas a derrota de segunda-feira frente ao Vasco, por 1-0, a terceira seguida, deixa o Fogão com a companhia de Palmeiras, de Abel, e RB Bragantino, de Pedro Caixinha, na frente. Estaremos a assistir a um dos maiores desmoronamentos de que temos memória numa equipa?

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Chamem-lhe quebra emocional, medo cénico, inexperiência. A Lei de Murphy que diz que quando algo pode correr mal, vai definitivamente correr mal, no pior momento possível e assim parece viver nesta altura o Botafogo, num permanente medo, à espera da inevitável guilhotina.

Falamos de uma equipa que já teve o título brasileiro deste ano na mão, que seria o primeiro desde 1995, apenas o terceiro numa história onde cabem Heleno de Freitas, Amarildo, Didi, Nilton Santos ou Garrincha, e agora o vê fugir, derrotada em campo jornada após jornada, derrotada a cada movimento no relvado, soturno e inconsequente, tremeliquento, sem confiança, uma sombra do sólido conjunto que o português Luís Castro deixou já com sete pontos de vantagem em finais de junho, quando cedeu à tentação milionária da aventura saudita.

A derrota de segunda-feira por 1-0 frente ao aflito Vasco, que se seguiu ao impensável desaire da semana passada, quando a vencer por 3-0 se deixou atropelar pelo Palmeiras de Abel Ferreira, que viraria para 4-3, deixa o Botafogo numa crise existencial que já ninguém acredita que acabe em título, apesar de, tecnicamente, ainda ser líder do Brasileirão. A equipa do Rio de Janeiro chegou a ter 13 pontos de vantagem à 19.ª jornada, em meados de agosto, ainda era Bruno Lage o treinador. Os maus resultados surgiram a partir daí e o antigo treinador do Benfica saiu em inícios de outubro, após cinco jogos sem vencer e várias supostas tricas no balneário com jogadores, particularmente Tiquinho Soares, que relegou para o banco.

Luís Castro deixou o clube em junho com sete pontos de vantagem. Seguiu-se Bruno Lage, entretanto despedido
Wagner Meier

Agora, à 32.ª rodada, quando faltam seis para o final (mas sete jogos para o Fogão), o Botafogo tem os mesmos 59 pontos que o Palmeiras, que tem mais um jogo. O RB Bragantino, forjado pé ante pé, quase sem se dar por ele por Pedro Caixinha, tem apenas menos um ponto, com os mesmos jogos - e as duas equipas ainda se vão defrontar, no próximo domingo.

A saída de Luís Castro parece ter definido um antes e um depois nesta equipa do Botafogo. Com o português que agora treina Cristiano Ronaldo no Al Nassr, o Botafogo fortalecia-se jogo a jogo depois de uma primeira temporada do treinador que foi de recuperação do ânimo de um gigante, que em 2021 jogou na Série B do Brasileirão. De regresso ao escalão principal, Luís Castro ficou a apenas três pontos de qualificar a equipa para a Libertadores, enquanto construía um plantel com Perri, Marçal, Tchê Tchê ou Júnior Santos, que haviam chegado ao clube por não jogarem nos anteriores empregadores e se foram tornando essenciais nesta nova vida.

Além destes, entraram ainda Tiquinho Soares, Danilo Barbosa ou Carlos Eduardo, todos eles bem conhecidos do futebol português. Diego Costa foi outro dos reforços. Tiquinho, em particular, tornar-se-ia ídolo para a torcida da Estrela Solitária - leva 16 golos nesta edição do Brasileirão -, mas com a chegada de Bruno Lage foi perdendo o protagonismo que tinha com Castro. Na segunda-feira, com o Vasco da Gama, foi um dos rostos do descalabro botafoguense: sempre desligado do jogo, ainda recebeu um cartão amarelo que o deixa de fora do importante duelo com o Grêmio na quinta-feira.

Desalento após a derrota com o Vasco
Wagner Meier

Do Brasil chegam ecos que o colapso emocional e da confiança da equipa é o que mais impressiona. O coletivo deixou de funcionar e as individualidades passeiam-se quase em pânico pelo campo, como se a relva fosse um imenso campo de brasas. A derrota com o Vasco foi a 3.ª consecutiva, mas desde o desaire com o Flamengo por 2-1 a 3 de setembro que o Botafogo entrou numa espiral de inconstância que poderá terminar num dos mais impressionantes desmoronamentos que o futebol internacional assistiu nos últimos anos. Nos últimos 10 jogos, são seis derrotas, dois empates e apenas duas vitórias.

E, no final, o sorriso pode ser português. Numa recuperação que parecia impossível, Abel Ferreira está agora de novo na luta pela revalidação do título do Brasileirão. Empatado na frente, mas com mais um jogo, o Palmeiras tem ainda esta semana dois duelos difíceis e decisivos, com Flamengo e Internacional. Já Pedro Caixinha, o homem que se soube adaptar ao mui específico ethos e dinâmica do futebol brasileiro, parece ter um calendário mais favorável. O duelo com o Botafogo, no domingo, definirá muitas das hipóteses do RB Bragantino. Segue-se depois a receção ao Flamengo, mas acaba o campeonato com Fortaleza, Coritiba e Vasco da Gama, onde é favorito.