Há duas formas de ver o futebol francês. Por um lado, o futebol que recebeu Lionel Messi, conseguiu manter Kylian Mbappé e ambiciona chegar ao mesmo nível que outras ligas europeias, como a inglesa, alemã ou espanhola. Por outro, o futebol que tem vindo a protagonizar momentos de violência nos estádios desde que a época começou.
Nem parece o mesmo, mas é.
O alerta foi lançado logo no início da época, mas os acontecimentos do último fim de semana é que fizeram realmente soar as sirenes. No jogo entre o Lyon e o Marselha, Dimitri Payet foi atingido por uma garrafa de água arremessada da bancada. O jogo terminou cinco minutos depois de começar.
"Esta é a sexta agressão [desde que a liga começou] no mundo do futebol: isto tem que acabar”, alertou Roxana Maracineanu, ministra do desporto francesa, à rádio France Info. “Todos devem compreender que o que está em risco hoje em dia é a sobrevivência do futebol francês e do seu modelo económico”.
O primeiro passo para solucionar o problema já foi dado. A ministra convocou uma reunião com os dirigentes da Liga de Futebol Profissional (LFP), a federação francesa de futebol, os responsáveis pela arbitragem e vários clubes. Em cima da mesa estão temas como o sistema de sanções, que consideram não estar a resultar, e a capacidade da liga e dos clubes de salvar a imagem do campeonato.
As sanções aplicadas devido aos incidentes do último fim de semana já são conhecidas. O Lyon vai jogar à porta fechada a sua próxima partida em casa e o agressor acabou por ser detido.
Em entrevista ao "El País", o historiador Sébastien Louis, que se dedica ao tema das claques no futebol, reconheceu que a situação em França nunca foi tão má, mas afasta a ideia de que tenha alguma ligação ao ‘hooliganismo’.
“Em França, nunca vimos tantos incidentes num espaço de tempo tão curto. Ao mesmo tempo, é preciso estar ciente de que estes são incidentes completamente diferentes: alguns são causados por grupos de adeptos rivais, como no Lens-Lille, outros devido à má organização de segurança, como no Nice-Marselha, e outros devido a um espectador isolado, como no Lyon-Marselha. É preciso distinguir e não ver tudo através do prisma do hooliganismo”, afirmou.
O medo é que estes acontecimentos estraguem a reputação do futebol francês fora do seu país de origem.
Também ao jornal espanhol, Daniel Riollo, comentador desportivo no RMC, afirma que “tudo isto é minado pelo que acontece nas bancadas e porque a liderança não é suficientemente forte para tomar as decisões corretas”. O comentador realça também que, por outro lado, há muito que não se assistia a um início de época destes em França, desportivamente falando: “Os resultados na Europa são positivos e o jogo no campeonato é atrativo”.
Fica por saber se realmente os órgãos que dirigem o futebol francês vão conseguir criar medidas para que ao espetáculo que é o jogo se junte o espetáculo nas bancadas.