Com uma fatiota elegante e impecável, jogando o preto com o bordô, Dani Alves pisou o relvado e arrancou um pedaço de relva. A seguir, ainda agachado, aspirou o aroma daquele pedaço de promessa de felicidade como quem quer mais do que isso e disse: “Cheira a Camp Nou, cheira a títulos. Isto cheira a troféus e essas coisas”, ouvia-se nos entretantos da apresentação como reforço blaugrana. O sorriso era atrevido e honesto.
O brasileiro, tal como em 2008, apresentou-se com umas havaianas nos pés, que descalçou na fronteira desenhada pela linha de cal, a tal que separa os futebolistas dos homens comuns. Talvez para lembrar aos outros de onde vem, talvez para demonstrar o pináculo do respeito pelo escudo que agora volta a vestir. Desta vez, o protocolo indicava mudanças e entrou no jardim do Camp Nou, enquanto tocava o hino, calçando a alegria de menino que ainda não acredita no que está a acontecer. Beijou o símbolo e simulou uma correria pelo corredor direito. Estava feliz.
Dani Alves, que viu oito herdeiros do lugar passarem por ali sem grande sucesso, sucede, na verdade, a ele próprio. A comparação e a exigência foram impostas pelo internacional brasileiro que dali saiu, em 2016, para a Juventus.
O lateral, que admite fazer outras posições, vai vestir a camisola 8 no Barcelona. Por Andrés Iniesta e Hristo Stoichkov.
Embora se apresente com uma leveza juvenil, o discurso leva na mochila algumas toneladas. “Não nasci para ser segundo. Venho guerrear, não para passar o tempo. Venho para jogar, para lutar. E vou consegui-lo. Vejo-me dentro do campo, não fora dele. A idade, para mim, é só um número”, disse esta tarde, no Camp Nou, aqui citado pelo “El País”.
“Tenho menos cabelo, mas as ganas são as mesmas. Quero trazer-lhes [aos colegas] alegria e ilusão. Nos últimos tempos, a equipa sofreu com coisas negativas e está na hora disto mudar. O desafio é grande, mas a vontade também”, promete.
O futebolista brasileiro passou por Juventus, PSG e São Paulo antes de regressar ao lugar que mais lhe aquece a alma. Na bancada estavam 10.378 adeptos, um número que supera a apresentação de Xavi Hernández (9.422), o novo treinador e ex-colega de equipa de Alves.
Joan Laporta estava satisfeito. “Fisicamente é um superdotado. Encanta-lhe competir e vai contagiar a equipa com o seu caráter ganhador. Obrigado pelo regresso ao Barça”, disse ao defesa que chegou a Espanha em 2002, para jogar no Sevilha.
Dani Alves está seguro de que será possível melhorar o panorama em que estão afundados os catalães, nomeadamente jogando "mais como equipa, que essa é a marca deste clube”. Ou seja, “a bola é a obsessão e necessitamos de voltar a ter essa obsessão, porque devemos ser nós a impor as regras”, alertou, num idioma futebolístico que agradará a Xavi e que será naturalmente uma das razões para este regresso.
Dani Alves conhece de cor todas as esquinas do ADN Barça.
Quando uma lenda, com 38 anos, regressa a um clube como o Barcelona, abre-se uma janela para uma pergunta inevitável. Então e…
“Se me derem algumas horas, vou buscar o Messi”, provocou assim a audiência, entre risos. “As histórias nascem escritas e vão ser sempre lembradas. O Leo é a melhor coisa que pude ver e ter como parceiro em campo. Seria porreiro que pudessem voltar”, disse ainda, aqui citado pelo "Globo Esporte". O plural naquela frase incluía Iniesta, o genial médio de 37 anos, atualmente no Vissel Kobe, que há pouco tempo brincou a dizer que podia dar uma perninha no Barça.
Joan Laporta não descartou o regresso de Messi e Iniesta. “É algo que aconteceu com o Dani Alves. A idade é apenas um número. Ele viu a situação [do clube] e quis vir ajudar. Tenho que lhe agradecer por ter feito um esforço financeiro significativo. O Leo [Messi] e o Iniesta são personalidades que tornaram o clube grande e dois jogadores espetaculares. Não posso prever o futuro, eles ainda estão a jogar, mas são ídolos do Barça. Na vida nunca se sabe”, disse o presidente dos catalães.
A estreia de Xavi no banco, como sucessor de Ronald Koeman, está agendada para este sábado, no Camp Nou, e logo contra o rival da cidade, o Espanyol. Dani Alves, que já treina com os novos e antigos companheiros, ainda não pode alinhar, pois só poderá competir a partir de janeiro.
O contrato do lateral brasileiro tem a duração somente de meia época, até junho. “Tenho de sacar nota alta para continuar, senão eu mesmo pego na mala e vou embora”, avisou o novo reforço do Barcelona, um clube de rastos, com problemas financeiros e que tem estado muito abaixo do esperado na La Liga, onde ocupa a 9.ª posição.
Dani Alves, a primeira contratação da era Guardiola, estará agora no arranque da era Xavi Hernández, o homem que esperam que seja como Pep.