Um dia depois da UEFA criticar duramente a FIFA pela forma como tem conduzido o processo de reestruturação do calendário internacional, agora é a vez da própria União Europeia se envolver nesta particular guerra entre aqueles que defendem que o Mundial se deve realizar de dois em dois anos e os que querem manter o modelo tradicional a cada quatro anos.
E, sem surpresa, a UE coloca-se ao lado da UEFA. “Partilhamos totalmente as dúvidas das federações europeias de futebol sobre a possibilidade de um Mundial de futebol a cada dois anos”, disse Margaritis Schinas, vice-presidente da Comissão Europeia para a Promoção do Modo de Vida Europeu, que lembrou ainda que “a Europa é o epicentro mundial do futebol” e que o continente tem por isso “a responsabilidade de preservar um modelo que respeita os interesses dos adeptos, o bem-estar dos jogadores e a lógica global do calendário desportivo, não apenas interesses comerciais”.
Em maio de 2021, o congresso da FIFA deu luz verde para se avançar com um estudo sobre a viabilidade da realização dos Mundiais masculinos e femininos a cada dois anos, ideia mais tarde defendida por Arsène Wenger, agora conselheiro da FIFA, numa entrevista no início do mês ao “L’Equipe”.
Daí para cá, a UEFA, federações e ligas europeias têm batido o pé à ideia, que tem contado com o apoio de federações dos continentes africano e asiático, bem como de vários antigos jogadores, como Ronaldo Nazário, Peter Schmeichel e o português Nuno Gomes, entre outros, que estiveram numa reunião da FIFA em Doha este mês onde o organismo que rege o futebol a nível internacional apresentou o novo formato.
Na quarta-feira, a UEFA elencou de forma detalhada aquilo que considera “perigos reais” caso se concretize o plano da FIFA, nomeadamente a "diluição do valor do principal evento do futebol mundial, cuja periodicidade dá-lhe uma mística com a qual gerações de fãs cresceram”, a "erosão de oportunidades desportivas para as seleções mais fracas, devido às substituições de jogos regulares por fases finais de torneios”, "o risco para a sustentabilidade dos jogadores” e "o risco para o futuro das competições femininas, privadas de espaços de calendário exclusivos e ofuscadas pela proximidade de grandes eventos masculinos".